quinta-feira, 4 de junho de 2009

E a vida continua

No final de maio, assim como numa homenagem, começaram a surgir as flores das astrapéias (cientificamente dombeyas). Primeiro apareceu uma flor da astrapéia branca, completamente aberta no dia 27 de maio como que numa celebração, ou missa, de sétimo dia em homenagem à Márcia. Depois, nos dias seguintes, outras brancas e um sem número de astrapéias rosas, como numa panela de pipocas, começaram a espocar oferecendo suas cores, seu perfume de mel, seu pólen e seu néctar aos mais variados insetos e aos beija-flores.
Em seguida, as próprias flores, os insetos, as aves, o céu, o sol demorando a esquentar e a solidão do sítio, sem a presença física dela, é que me deram a noção da nossa insignificância.
Todo início de junho é assim. Basta esfriar o tempo e as flores voltam. E voltam as abelhas, as formigas, os pássaros, o néctar, o pólen e o perfume. As gotas de néctar que caem ao mais leve chacoalhar das flores, não são lágrimas adocicadas que se contrapõe às minhas, salgadas. São, como há milhares de anos, gotas de néctar.
Não importa quão grande seja a nossa dor e o nosso sofrimento. O universo continua em movimento. Nosso pequeno planeta continua girando em torno do sol. Nosso país, nosso estado e nossa cidade continuam como se nada tivesse acontecido. Nossas ruas, nossos amigos e nossos parentes, mais próximos ou mais distantes, após o primeiro direto de esquerda, se agarram nas cordas ou recebem o auxilio do árbitro e continuam lutando por um ou mais rounds, até que a própria luta, aquela que travam pessoalmente, se encerre.
O que marca, o que vale, pra quem partiu é o que fizemos. O pequeno gesto, o pequeno carinho, uma frase de agradecimento ou de apoio. Depois talvez valham as orações e as lembranças. Para os que ficam valem as recordações e as saudades.
Quase sempre eu apanhava a primeira flor de astrapéia rosa que aparecia e a entregava a ela. Ela agradecia, me beijava e a colocava num copo com água.
Este ano fiz a mesma coisa. Coloquei a flor num copo com água e ela já está secando.
Não houve agradecimento. Não houve beijo. Não houve a menor graça.
Nada do que eu faça consegue mover o universo para trás, minutos antes do acidente, no dia 20. Absolutamente nada. Absolutamente impotente e insignificante.

Um comentário:

Unknown disse...

Olá meu querido.Desculpe-me por não ter ai poder dar-te um abraço,por não poder estar perto;Mas aqui de longe,pedi a Deus força pra ti,sei que sabes do meu apreço por vocês e da minha admiração pelos teus;Um dia conversando com Fábio disse que,se pudesse me agregar a uma família ou poder escolher uma,com certeza faria parte da sua,por todos os valores,que encontrei em suas atitudes e em sua volta...Sei que tudo que faz parte do seu mundo e desse mundo que aprendi a admirar,tem mesmo que não percebido por alguns a doçura e acolhimento com que a Márcia tinha,mesmo que eu tenha convivido por pouco tempo com vocês,aprendi a ama-los,não só amar,mas,outros tantos valores.
Sei que o mundo,o universo,o planeta naõ param,pra nos dar o luxo de fazermos algo que ficou por fazer,e por isso quero que saiba que eu te amo muito,que estou com muitas saudades e que mesmo de longe sempre estarei te abraçando.
Força,viu?sei que não é facil...infelizmente é o curso da vida,que não pensa,ou não sabe que amamos...
Um grande abraço bem apertado.