sábado, 29 de agosto de 2009

Cem dias sem você.


Passaram-se cem dias da tua partida e ela ainda dói demais. Passou a tontura e as costelas doem pouco, principalmente nas noites mais frias, mas nada se compara ao que sinto pela tua ausência. Se estas duas fraturas continuam doendo, por quanto tempo doerá a amputação que nos separou? Em quanto tempo cicatriza o corte invisível que leva metade do nosso corpo? Demoramos quanto tempo para nos acostumarmos a continuar em pé quando os apoios e o chão nos são retirados? Onde se pode agarrar se a parede deste profundo poço escuro e frio parece ser feita de aço inoxidável liso? Se não há reentrâncias para fixar os pés ou cravar as unhas?
Não sei as respostas. Aliás é absolutamente impressionante como não sei mais nada, como tenho deixado coisas espalhadas e não consigo lembrar-me delas alguns instantes depois. É como se tivesse perdido também parte da memória ou como se me lembrar dessas coisas pequenas não tivesse a menor importância quando comparado com a tua perda.
Os óculos, lápis, papéis e outros objetos, algum tempo depois acabo encontrando, principalmente na baderna em que estão as minhas coisas sem a tua organização, mas onde me encontrar? Como é que posso ter perdido você se já sabíamos que eu ia me perder também? Se continuam dizendo que olhando pra você ou pra mim, isoladamente, viam a nós dois, o que é que eu faço se mesmo diante do espelho não vejo nada a não ser a tua falta?
Achei num arquivo a cópia de uma fotografia que fiz no Horto Florestal com você e o Diogo, há quase trinta anos. Chama a atenção o teu rosto de menina e o teu olhar distante ou perdido, como distante de tudo e perdido estou eu agora.
É como se estivesse internado. Não num leito de hospital com atendimento de médicos e enfermeiras e remédios com hora determinada. O leito é o nosso, vazio e gelado. Não há atendimento e não há medicamentos. A convalescença é demorada e isolada como se o mal fosse contagioso. A dor por vezes é quase insuportável e me contenho para não gritar. Fechada a garganta, o silencioso grito transborda pelos olhos.Eu que muitas vezes receitei o tempo como curativo para esse tipo de sofrimento estou tentando me automedicar, sabe-se lá por quantas outras centenas de dias.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Locupletemo-nos!

Caro José Ribamar, apesar de não nos conhecermos pessoalmente, com certeza temos muitas coisas em comum. Eu mais conhecido por Flávio e você por Sarney (as duas palavras com seis letras), você morando no Maranhão e eu em Miracatu, ambos começando com a letra M e com a mesma quantidade de letras, oito. Com certeza isso já bastaria para nos tornar próximos. Você nasceu no estado cuja sigla é MA e eu no estado cuja sigla é SP, ambas, por mais impressionante que pareça, com duas letras. Você nasceu no ano de 1930 e eu no de 1950. Três dos números são idênticos e tanto o três quanto o cinco apresentam uma curva na parte inferior. Nós dois lidamos com Política e Literatura. Você foi Presidente da República e eu Presidente da Cruzada Eucarística Infantil. Nos dois escrevemos e ambos temos obras de insignificante conhecimento e reconhecimento públicos. Isto só já seria mais do que suficiente para que partilhássemos uma churrascada na mansão que você tem na praia de Calhau, em São Luiz, ou aqui na modesta casa (de campo já que no interior de um sítio) em Musácea.
Estas coincidências todas, entretanto, nada significam diante do mais importante. Ambos somos avôs. E absurdo dos absurdos, ambos temos netas com o magnífico nome de Beatriz, imortalizado pelo eterno Jobim (não o seu ex-companheiro de Senado, mas o Antônio Brasileiro, o Tom). Tais similitudes me deixam com os pelos do corpo eriçados. Nos proporcionam, muito mais do que uma grande amizade, quase um parentesco.
É escorado nesse parentesco e nessa infindável série de semelhanças (além das já citadas, ainda temos dois olhos, dois braços, duas pernas, uma calva que avança em direção ao cocoruto, bigodes (os meus mais comedidos e acompanhados por uma barba) e sermos ambos brasileiros) que venho pleitear-lhe alguns cargos (da nossa cota, permita-me chamá-los assim) para pessoas da minha família (ou nossa, como demostrei às escâncaras).
Quero salientar, caro amigo, que minha neta Beatriz, de quatro anos, ainda não tem namorado, como a sua Beatriz. Esse pequeno detalhe, entretanto, não impede que você providencie uma colocação de bom salário (como fez com o nosso querido Henriquinho, namoradinho de nossa Beatriz, sua neta) para alguém indicado pela nossa Bia (minha neta).
Como aposentado explorado pelo outro José (o Serra), coloco o meu nome à sua disposição para a nomeação (secreta ou não) num dos órgãos da Capital Federal onde temos cotas de empregos. Obviamente só permanecerei no cargo até que a nossa menina (minha neta) firme-se com algum pretendente, o que deve ocorrer por volta de dois mil e vinte e cinco, quando o pai a deixará namorar.
Tomo tal iniciativa, obviamente por necessidade, mas também para cumprir a máxima defendida pelo nosso querido Barão de Itararé “Ou restaura-se a moralidade ou nos locupletamos todos”.
Um beijo para a Marly e para as crianças e um fraternal abraço pra você.
P.S. – Tenho certeza da dificuldade que tem o amigo, apesar de literato, em entender o significado da palavra moralidade, mas é óbvio que o encontrará em qualquer dos dicionários de mediana qualidade à venda em quaisquer livrarias e supermercados.

domingo, 23 de agosto de 2009

Caradura (Persona descarada, atrevida y sinvergüenza)

A desfaçatez da Telefonica é impressionante.
Em que pese os “especialistas” da “empresa” terem demorado três semanas para reparar o defeito, a conta dos serviços não prestados pela dita cuja, chegou no prazo costumeiro. E nos mesmos moldes dos estelionatos praticados anteriormente, quando cobraram minutos conectados na Internet aos que adquiriram um pacote chamado de “Internet ilimitada”, agora queriam cobrar os dias em que não forneceram os serviços.
Recebi a “nota fiscal fatura de serviços de telecomunicações” na qual consta o período de 19/07 à 18/08, exatamente o mesmo em que a “central” apresentou o defeito. Ainda assim na conta constavam os valores integrais da assinatura mensal e do pacote de Internet. Obviamente berrei assim que abri o envelope.
Liguei para o 10315 e disse que caso não houvesse a correção iria ao Ministério Público para apresentar representação. Depois de alguns instantes de espera, disseram que mandariam uma nova conta, com novo vencimento.
Ontem recebi uma nova fatura com valores menores e uma carta, sem assinatura e sem nome do signatário.
A absurda cara-de-pau, ou caradura que é como se fala em espanhol, está manifestada no segundo e no terceiro parágrafos da carta:
Conforme sua solicitação, analisamos os sistemas de rede, os equipamentos de tarifação e os lançamentos efetuados em sua conta telefônica e não identificamos qualquer anormalidade que pudesse gerar cobranças indevidas.
Entretanto, por valorizar o nosso relacionamento, vamos conceder excepcionalmente nesta conta o ressarcimento do valor cobrado conforme a sua solicitação.
O papel termina com um “Atenciosamente, Diretoria de Atenção a Clientes”, o que explica a canalhada toda. Como não há nome e tampouco assinatura de qualquer diretor fica patente que não há nenhum responsável por essa Diretoria assim como não há nenhuma atenção aos clientes. Pior! Quantos dos clientes lesados pagaram, e pagam, integralmente suas contas como se o serviço tivesse sido prestado?

sábado, 22 de agosto de 2009

Vantagem dos pombos correios quando comparados com a Telefonica.

Conforme disse anteriormente, a Telefonica (a tal empresa espanhola que controla a telefonia fixa em São Paulo), me obrigou a um exílio indesejado por vinte e hum dias, nos quais não pude fazer ou receber ligações e acessar a Internet. Durante todo esse período liguei várias vezes para a central de desatendimento da empresa para solicitar reparo na linha. Como consolo fiquei sabendo que o problema não era só meu e sim na rede do bairro, por um “defeito na central”.
No início imaginei, apesar dos fios não serem subterrâneos, que as chuvas tivessem causado a interrupção do sistema, afinal em julho choveu o que pareceu ser um ensaio geral para o próximo dilúvio. Quando as chuvas pararam e o sinal de linha não voltou julguei que algum cachorro tivesse mijado num dos postes (antigamente, segundo a sabedoria popular, isso bastava para que os telefones não funcionassem).
As atendentes da empresa (que devem passar por treinamento para mentir sem constrangimento) informavam sempre que os reparos estariam terminados no dia seguinte e algumas até informavam o horário, com minutos e tudo.
Uma vez que nada adiantou, resolvi ligar para a Anatel. Aprendi que não se pode ligar à noite e nos finais de semana, não funciona. Aprendi também que você precisa ter saco pra ouvir uma musiquinha por cinco ou seis minutos e, quando a ligação cair, ligar novamente. Numa dessas vezes, depois de oito minutos, fui atendido e contei o drama à operadora. Recebi um protocolo e o prazo de cinco dias para que tudo se resolvesse. Decorridos seis dias liguei e a mocinha informou-me que só se devem contar os dias úteis. Faltava um dia. Para não ter erro esperei dois dias e liguei novamente. Depois do tradicional “espera, musiquinha, espera”, fui afinal informado que tudo já estava resolvido, que eu já tinha sido informado e que os valores cobrados indevidamente pelo tempo sem telefone, me seriam devolvidos no próximo mês.
Considerando-se que o telefone teimava em permanecer mudo, que ninguém havia me informado absolutamente nada e que eu financiaria, por alguns dias, a empresa espanhola, resolvi soltar os cachorros. Depois pedi desculpas à moça e informei-a que a Telefonica havia mentido desavergonhadamente. Ficou de reabrir o protocolo (???) e disse-me que o prazo agora seria de dois dias.
Por coincidência o sinal voltou no dia 12 , ao final desse prazo. De lá para cá, já me ligaram três vezes, para saber se o aparelho está funcionando (acho que também não confiam no serviço executado!). Numa dessas vezes o rapaz me preveniu que o valor a ser cobrado estaria errado e que a diferença me seria devolvida na conta do mês que vem (provavelmente o Código Penal não pune furto ou estelionato anunciado com antecedência). “Nem a pau!” argumentei eu.
Por via das dúvidas pedi a emissão de uma conta com os valores corretos e solicitei ao banco o bloqueio temporário do débito automático.
É claro que tanto a Telefonica quanto a Anatel estão, digamos polidamente, defecando e caminhando para os consumidores, mas assim também já é demais.De qualquer maneira estou procurando criadores, se ainda existem, de pombos correios. Com certeza absoluta muito mais baratos e eficazes além de comestíveis numa eventualidade. Fora todas essas vantagens, as cagadas que fazem servem magnificamente para adubar uma horta o que não é o caso das concorrentes.

sábado, 15 de agosto de 2009

Que bom, amanhã é sábado.


O pôr do sol, o final da tarde e o céu avermelhado sobre os morros não mudaram ou são muito parecidos com os que assistíamos.
Os pássaros que voltam para os seus abrigos, as últimas abelhas que retornam carregadas para suas colméias e os morcegos que iniciam suas buscas por alimentos não alteraram suas rotinas.
Nada mudou e tudo mudou, absurdamente.
Minhas caminhadas no horário da tua volta não são mais as mesmas.
Continuo precisando, talvez mais ainda, fazer exercícios, mas as idas e vindas pelo caminho perderam a graça.
Não te encontro mais na caminhada. Não vejo mais o sorriso no teu rosto cansado. Não há mais beijos. Não faço mais piadinhas. Não te puxo pelo braço pra me acompanhar só para ouvir a recusa e o “Não parei o dia inteiro”. Não te abraço mais pra voltarmos lado a lado.
Numa sexta-feira, como hoje, não ouço mais o “Que bom, amanhã é sábado”, quando você entrava em casa.
Dizem os médicos que continuar caminhando é bom para o coração. Sei que me sentia muito melhor antes da tua partida e se continuo fazendo essas caminhadas é por teimosia e pra melhor recordar. Quem sabe, no íntimo, por alguma vã esperança de que o ônibus que te trazia pare e que você apareça e sorria novamente.
O certo é que algumas vezes as lembranças e a saudade passam dos limites e vazam pelos meus olhos. Se me perguntarem, como estamos no inverno, vou dizer que é o vento frio do cair da noite que bateu em meu rosto.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Telefonica e Presunto

Uma destas frias e solitárias noites, depois de perambular com o controle remoto pelos canais de televisão assisti parte de um programa sobre gastronomia. O apresentador estava na Espanha e mostrava uma magnífica criação de porcos destinada à fabricação do Jamón Joselito (considerado o melhor presunto do mundo). Presunto que, diga-se de passagem, não é para o meu e nem para o seu bico, já que, na Internet, sem impostos, 100 gramas custam o equivalente a cinqüenta reais. Com o alto valor dos impostos nacionais, a menos que você seja cliente de uma daquelas lojas cujas proprietárias burlam impunemente o fisco, vai acabar pagando uns cem reais pelas tais cem gramas.
Bem, se isso não é recheio para o meu pão integral, por que é que me veio à cabeça?
Ocorre que desde o dia 23 do mês passado até o início da tarde de ontem eu e os moradores de Musácea ficamos sem telefone e, conseqüentemente, sem Internet. A empresa, espanhola como os anteriormente mencionados porcos, alegou problemas na central. Nas inúmeras ligações que fiz, de um celular que funciona quando quer, as atendentes sempre me diziam que o conserto estava previsto para o dia seguinte, o que demorou vinte e hum dias.
Então, se a manutenção da Telefonica é porca, se o serviço que prestam é porco e se são porcos tanto a atenção quanto o respeito pelos seus clientes (que não tem para onde fugir), ao menos deveriam nos mandar umas fatias do tal presunto para que pudéssemos ir degustando enquanto esperamos que as falsas promessas das atendentes se concretizem (fico imaginando o que sofrem essas moças sendo obrigadas a mentir todos os dias). Entre os clientes brasileiros e os porcos, fica a certeza que os empresários espanhóis tratam melhor os porcos.