sábado, 19 de dezembro de 2009

Maio, última paisagem.



Maio me encontrou preparando uma paisagem.
Em 19 tinha preparado as tintas, as cores.
Em 20, em lugar da impressão das matrizes, vieram as trevas.
Depois veio o choro, a solidão, o abandono.
Um dia vi que as folhas caiam e outras tomavam os seus lugares. Os galhos rebrotavam e se enchiam novamente de verdes. De todos os tons. Vi que os pássaros voavam como nunca tinham deixado de fazer. Mesmo nos dias mais tristes ou chuvosos.
Em setembro resolvi colocar as tintas nas matrizes e estas no papel.
Talvez não fossem os mesmos cinco sob o sol. Talvez fossem apenas quatro. Talvez fossem cinqüenta, quinhentos, cinco ou seis bilhões.
Depois que as cores voltaram aos papeis, também voltou o riso, a esperança.
Veio a notícia do novo menino, o Flávio da Yza e do Renato, que chuta a barriga da mãe querendo nascer e aí me dou conta de que os cinco, seis ou dez bilhões somos pequenos e frágeis. Constatamos que somos magníficos, como quaisquer dos outros seres que fazem parte do sistema, mas insignificantes diante da quantidade de folhas, flores, insetos, pássaros ou paisagens.
Descobrimos que apenas a nossa arrogância e prepotência nos dão a certeza da vida eterna.
O mundo, as galáxias, o universo, nos dão a vida. Farta, abundante, do dia de hoje, deste instante.
A nossa ganância é que recolhe, muito mais do que precisamos, para o futuro.
Não existe última paisagem. As paisagens passadas e de agora não se repetirão. Cada broto de folha, cada botão de flor, cada nuvem em movimento imprime uma nova.
Não se pode, como fazemos com as gravuras, numerar, assinar ou estocar paisagens.

Telefonica? Só com a força de São Expedito.

Pode ter certeza: não é perseguição!
O atendimento dos funcionários até que melhorou, estão mais simpáticos e atenciosos. O que continua não ocorrendo é o respeito ao consumidor por parte da empresa.
Apesar de toda a propaganda veiculada pela Telefonica alardeando a melhoria da prestação dos serviços, isso não ocorreu. E se o telefone funciona mal, a Internet da iTelefonica funciona pior ainda.
Você fica vários dias sem sinal. Algumas vezes o sinal aparece mas há cada três minutos a ligação cai. Se chove forte a água aparentemente carrega a linha e o sinal vai junto. Pode ser medo de enchente, mesmo sendo alto o local.
O que tem funcionado perfeitamente é o setor de cobrança. Todos os meses, regularmente, a conta chega com a cobrança dos serviços não fornecidos. Trata-se do famoso 171. Experimente o dono do boteco daqui vender sistematicamente um refrigerante, cobrar e o comprador perceber que dentro da latinha não havia nada além de ar. Com certeza vai dar polícia, juiz e até jornal .
Com a Telefonica, se você reclamar bastante, eles acabam dando um desconto, não sem antes informar que não encontraram nenhuma irregularidade. A maioria não reclama e fica por isso mesmo. Para a Anatel não adianta recorrer. Quem sabe ao padroeiro das causas impossíveis.
São Expedito, rogai por nós, dai um jeito nessa boca-de porco, nessa espelunca e fazei com que não surrupiem nosso rico dinheirinho. Amém.

domingo, 25 de outubro de 2009

Prematuro?

Estes dias tenho sido assaltado pela possibilidade de um novo relacionamento afetivo.
O assaltado fica pela chance de estar sendo vítima de alguma irregularidade, ou ilicitude, cometida pelos meus sentimentos. Teimo em dizer que sentimentos e, principalmente, pensamentos são assim como que independentes. Provavelmente monges budistas, com bastante experiência, tirem isso de letra. Só pensam no que querem, quando querem, e, dizem que chegam até a deixar a cabeça tão limpa quanto uma tela ou folha de papel antes da pintura. Para os simples mortais, especificamente este, isso não ocorre. Vira e mexe sou tomado de assalto por sentimentos ou pensamentos que não me consultam sequer à respeito da hora da visita.
Quando converso ou me insinuo não me dou conta, mas, depois, naqueles momentos de solitária reflexão, que tem sido a tônica destes meses, acho que posso estar cometendo, ou em vias de cometer, uma traição contra a Márcia, desta vez contra a memória dela.
Sempre achei complicada a religiosa existência de faltas ou pecados por pensamentos, palavras e obras. Nem sei se ainda existem pecados ou religiões, mas vá lá que obras e palavras que possam prejudicar outro ser, sejam punidas de alguma forma. Agora, pensamentos? Talvez por isso é que eu lhes atribua essa absoluta independência. Eles que sejam procurados e punidos, se merecerem. De antemão já aviso, não sei onde se escondem.
Qual é o tempo do luto? Lembro-me de minha avó que só conheci, quando menino, viúva e das roupas permanentemente pretas, ou muito escuras, que usava além dos cabelos presos no cocuruto. Isso mesmo depois de muitos e muitos anos da partida de meu avô. E agora?
Esses sentimentos, pensamentos e palavras, com cores mais vivas, magoariam a Márcia?
Provavelmente, minha avó diria que sim, minha mãe que não. A própria, magnânima, diria que não e acrescentaria que eu não saberia viver sozinho. Ao mesmo tempo, ciumenta, talvez dissesse que não mas com a aparência de sim.
Mesmo com a absoluta certeza de que cores mais claras ou abertas, não significam nem por um instante esquecimento, alguma das pessoas que me são caras afirmaria que ainda é prematuro?

Assim também já é demais!!!


Há coisas das quais não se pode abrir mão!
Pedro, o Cabral, disse ter descoberto o Brasil. Mal contada história. Primeiro porque não havia nenhum Brasil encoberto. Segundo, já havia aqui muita gente a quem o tal Pedro chamou de índios, provavelmente julgando que tinha chegado à Índia. Terceiro, se realmente achou alguma coisa, porque não registrou em seu próprio nome ou de sua família e não em nome do rei de Portugal, que nem tinha vindo na viagem? Isso aqui se chamaria Fazenda São Cabral, Quinta de São Pedro ou Chácara dos Álvares (as propriedades eram muito vastas antigamente) e não Ilha ou Terra de Santa Cruz.
Sabe-se lá porque, a propriedade acabou passando para o rei português e o Pedro Álvares morreu à míngua. Provavelmente de cirrose já que devia ser alcoólatra (para agüentar as longas viagens com comida estragada, diarréias, marinheiros cheirando mal, falta de mulheres, rádios e palavras cruzadas, só mesmo bebendo muito) Ninguém sóbrio confundiria esta terra com a Índia, exceto autores de novelas, séculos depois, ao divulgarem que todos os indianos falam a nossa língua.
Isso, contudo, só vem à baila para dizer que se Cabral deixou barato, eu não vou deixar não. Não posso permitir que pessoas mal intencionadas se apropriem dos meus direitos.
Eu, e mais ninguém, lá pelo terceiro quarto do século passado, descobri que Sua Santidade, o Santo Padre (como dizia o meu pai), o Papa, defecava. Repito, eu e mais ninguém!
Estava realizando estudos a respeito da atividade defecativa (quando meus filhos eram pequenos) e, entre outras iluminações, essa me atingiu como um raio. Até então, é bom dizer, por tudo o que se sabia ou era divulgado, o papa não comia, não bebia e, por conseqüência não urinava e tampouco defecava. Os papas viajavam, escreviam encíclicas e faziam aparições na Praça São Pedro. Só. Coisas muito superiores, muito sagradas.
Pior. Se os papas, seres quase divinos, defecavam, então todas as nossas cagadas, morais, espirituais, financeiras ou de conduta podiam ser toleradas, compreendidas e até mesmo perdoadas.
Quando essa explosão me atingiu, não sai alardeando por aí, tanto por medo de que me tachassem de louco quanto pelo medo de perder a patente. Registrar uma patente aqui é dificílimo. No exterior é moleza. Até fruta brasileira já foi patenteada lá fora. Imagina se minha descoberta se espalha.
Agora, meus advogados, após minucioso estudo, chegaram à conclusão de que não tenho direito nenhum sobre essa descoberta. Não adianta discutir, disseram-me eles. Qualquer juiz das cortes internacionais vai julgar improcedente esse pleito.
Uma ova!
Pensei em botar a boca no trombone. Falar dos defecadores famosos. De como deve ser difícil para apresentadoras de televisão que inflam as nádegas com silicone. De dom João VI que se empanturrava com galetos. Da rainha da Inglaterra. Do grito do Ipiranga.
Resolvi esperar.
Vou recorrer à ONU se necessário for. Direito é direito.
Os autores das estatuazinhas espanholas (http://www.caganer.com) que me aguardem!. Vou arrumar mais problemas com os espanhóis. Já não me bastavam os que tenho com a Telefonica e o Santander?.
Paguem o que é meu!.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Saudades e memórias. Cinco meses.

Há dias em que sinto uma imensa saudade.
Normalmente ocorre quando vejo ou leio alguma coisa, mas principalmente quando ouço músicas. Podem ser apenas instrumentais ou acompanhadas de versos bem feitos (a grande maioria). É quase impossível escutá-las sem me recordar de coisas ou pessoas com o tal sentimento que, dizem, só existe na língua portuguesa.
Os dicionários a descrevem como a recordação triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas que desejaríamos ver ou possuir novamente.
Daí para a nostalgia, que é a melancolia causada por ela, é um pulo.
Mãe da saudade e da nostalgia é a memória.
Uma vez escrevi que a memória era como uma pasta contendo recordações (escritas, sonoras ou fotografadas) e deixada sobre um armário de uma casa de campo ou praia para a qual não viajamos com freqüência. Um belo dia, quase sempre sem querer, topamos com a tal pasta lá em cima e, com uma espanada, retiramos todo o pó que se acumulou por tanto tempo.
Como por mágica o tempo volta. É o bilhete deixado sob o travesseiro para ser encontrado por um na noite em que o outro viajou. É o beijo gravado com batom num pedaço de papel, colocado entre o limpador e o pára-brisa, só descoberto na estrada. São os códigos adotados para que, dentre todas as pessoas do mundo, apenas uma receba a mensagem. É o papel de bala ou bombom que diz tanto quanto uma página escrita. É a letra grega η “eta” que utilizei para abreviar “eu te amo” e que podia ser escrita numa porção de lugares e objetos ou em etiquetas de roupas presenteadas.
Nesse instante a memória e a saudade se aliam.
Não é mais preciso ter os papéis ou os códigos à mão.
Basta espanar a poeira do pensamento.
As imagens, os sons, os escritos e os sentimentos voltam à superfície. Como um enorme peixe que vem à tona para respirar. Pode ser doloroso ou não. Pode haver só ar fresco ou pode estar acompanhado de um arpão, uma fisgada, uma dor, um choro.
Recordação é, por sua própria natureza, independente. Gostemos ou não, queiramos ou não, boas ou más, elas reaparecem. Chacoalhando a cabeça para que se desgrudem ou permanecendo imóveis para que não fujam. Abertas ou cicatrizadas as feridas, elas bóiam, sobrenadam.
Exatamente como pessoas ou coisas que desejaríamos ver, tocar, sentir, escutar ou literalmente possuir novamente.

sábado, 17 de outubro de 2009

Marítima Seguros S.A. – O Calvário – Parte I

Em 2007 fiz uma apólice com a Marítima Seguros. Já tinha feito outras com a empresa e nunca as tinha utilizado. A corretagem foi feita pelo Santander e o pagamento das parcelas sempre por débito automático. Tudo muito rápido e facilitado.
Após o fatídico 20 de maio, fizemos as comunicações de praxe.
Primeiro quiseram saber para que concessionária o veículo seria levado. Dissemos que o carro estava destruído, a pista tinha ficado bloqueada por cerca de doze horas e o carro estava no pátio do guincho que o removera. Insistiram como se os destroços pudessem ser recuperados até que efetivamente foram para uma concessionária em Registro. Depois alegaram que havia de ser feita uma vistoria e que não tinham vistoriadores na região. Todos os órgãos policiais mencionaram a perda total do automóvel, mas essa certeza tinha de ser validada por um inexistente vistoriador da empresa. Acabaram encontrando um.
Dias depois fomos contatados por um despachante que “ia cuidar do caso”. Conhecendo os “urubus” que rondam as famílias dos mortos em acidentes para se apropriarem do seguro obrigatório e sem a menor idéia de onde tinha surgido o tal despachante, dissemos que não trataríamos com despachantes.
A relação dos documentos que deveriam ser apresentados incluía, de modo absurdamente imbecil, um boletim de ocorrência elaborado no local do acidente, outro elaborado na Delegacia de Polícia e outro Boletim de Ocorrência Militar,que deveria ser enviado antecipadamente, todos em suas vias originais. A esses absurdos somavam-se outros como IPVA do ano anterior (além daquele do ano atual).
Liguei para um dos despreparados atendentes para explicar que não existe boletim elaborado no local do acidente (os dados são coletados ali, mas a elaboração é feita ou na Delegacia ou no Destacamento Militar ou no Posto da PRF) e, quando manual, a primeira via, original, nunca é fornecida, destinando-se aos arquivos policiais. Quando elaborada em computador, todas as vias acabam sendo originais. Quanto ao IPVA do ano anterior, os comprovantes do pagamento, via caixas eletrônicos, se desbotam com o tempo e ficam ilegíveis.
Obtive o número do laudo pericial e o passei, por telefone, à empresa. Pediram-me a data do laudo. Como Escrivão aposentado sei que o laudo só é emitido algum tempo depois da perícia até mesmo em razão da falta de funcionários e das péssimas condições de trabalho.
Informei que a data da perícia era a mesma da data do acidente. Disse do desbotamento do comprovante do IPVA velho e me sugeriram que fosse a um poupa tempo para obter um outro. Disse que na região não existe esse serviço.
Como insistiram, obtive uma certidão na Ciretran com a inexistência de quaisquer débitos.
Essa certidão e as cópias ilegíveis anteriores foram encaminhadas pelo Santander de Miracatu. Alguns dias depois fui informado que os documentos tinham sido devolvidos, ou pela recusa do Santander Central em entregá-los ou pela recusa da seguradora em recebê-los.
Finalmente foram-me solicitados documentos como o DUT em nome da seguradora e a baixa das restrições. Quando liguei para a Marítima, para inteirar-me da palhaçada, fui informado que esses documentos não eram de minha responsabilidade e sim da empresa financiadora.
Tudo muito demorado, emperrado e dificultado.
Ficou faltando dizer que o valor da indenização é o da tabela FIPE da data do pagamento e que esses valores vão decaindo com o passar do tempo (quanto mais demorado menos pagam).
Tudo muito lógico, lucrativo e previsível.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Haja fidalguia

Hoje, um daqueles dias tirados para roçar o gramado, comecei pela tarefa mais humilde que é a de recolher a bosta dos cachorros. Já disse aqui que se isso não for feito a roçadeira pode espalhar os montes em todas as direções. Para quem já conhece o equipamento, é só inclinar um pouco a lâmina ou o cabeçote de nylon para a direita que as pedrinhas, pedaços de galhos e dejetos em geral são atirados para frente em lugar de atingirem as pernas do operador. Porém (impressionante como aparecem os poréns), nem sempre, durante o manuseio, se mantém a máquina inclinada. Como nas famosas Leis de Murphy isso acontece invariavelmente quando se passa sobre um montinho mais escondido e, quase sempre, recém largado. Daí a necessidade da constrangedora tarefa.
Bem, mas a que me veio o escatológico assunto à mente?
Sim. Uma destas noites estava falando com uma das moças das minhas relações, e aqui, para maior clareza, cabe dizer relações orais, e ainda mais (para que não se pense nos exemplos de Clinton e Mônica Lewinsky), verbais, pelo telefone. Falávamos sobre reutilização e reciclagem e chegamos as sacolinhas de plástico entregues nos supermercados. Disse-lhe eu que as utilizava para depositar o lixo da cozinha e do banheiro ao que ela retrucou que para o banheiro usava pequenos sacos de lixo comprados. Falou que as sacolinhas ficavam feias com as alças penduradas para fora do cesto. Gosto é gosto e pronto.
Lembrei-me também de uma fidalga senhora caminhando pela avenida da praia, em Santos, quando fui visitar os filhos e os netos, na semana passada. Era uma senhora idosa que conduzia ou era conduzida por um enorme cachorro que mais parecia um jumento. Em meio à caminhada o gigante estancou, arqueou as patas traseiras e com aquele olhar perdido, sem demonstrar a menor vergonha, deixou sobre a calçada como que um tronco podado de árvore. Enquanto o trafego de pedestres parava e esperava, a doce senhora tirou de um dos bolsos da calça a malfadada sacolinha e fazendo-a de luva, apanhou o volume, virou o plástico do avesso e deu-lhe um nó com a perícia e a rapidez próprias da experiência. Segurando o pacote pelas alças (desprezadas pela minha amiga) lá se foi a velhinha balançando o fardo à procura de uma lata de lixo.
Conclusões:
1 – Coitados dos lixeiros!
2 – Plástico prejudica o meio ambiente mas serve pra alguma coisa.
3 – Recolher fezes em algumas situações é Lei, em outras é uma necessidade de trabalho e em outras é uma contingência imposta aos clientes obrigados a escutar as descabidas explicações dadas por empresas como Telefônica, Marítima Seguros, Aymoré Financeira e tantas outras.
4 – Tente passar por tudo isso sem perder a nobreza (como a velha senhora).

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Pedaço de Mim / Retalhos

PEDAÇO DE MIM
(Chico Buarque de Holanda)

Oh pedaço de mim
Oh metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar.

Oh pedaço de mim
Oh metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais.

Oh pedaço de mim
Oh metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu.

Oh pedaço de mim
Oh metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi.

Oh pedaço de mim
Oh metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo A mortalha do amor, adeus.



RETALHOS
Oh pedaço de mim,
Oh metade adorada, amputada e arrancada de mim,
Não leva, deixa o teu olhar, os teus sinais, o vulto teu, o que há de ti
E lava os olhos meus.
A saudade é a pior tormenta num barco.
É o revés de um parto.
A dor latejada do pior castigo.
O esquecimento que aos poucos descreve um arco.
A saudade é arrumar o quarto.
É assim como uma fisgada que teima em ficar comigo.
É pior do que se entrevar ou ficar atracado no cais.
É um filho que já morreu ou um membro que já perdi.
Não sei como não levar comigo a mortalha do amor. Ah, Deus!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Manhã de finados

Hoje amanheceu chovendo.
Aquela chuva fina, mansa, fria e persistente dos dias de finados.
Não estou ainda completamente alienado, sei que estamos em setembro, um domingo, dia 20. Sei que ando confundindo os dias da semana como se as feiras fossem as mesmas, de segunda a sexta. Sinto também que os sábados, domingos e feriados estão todos com as mesmas caras exceto quando alguém me visita.
Há exatos quatro meses uma rápida cirurgia nos separou impiedosamente e a imagem que sempre me ocorre é a das operações para separar gêmeos siameses, ao contrário, sempre muito demoradas.
Diferentemente dos irmãos que nascem juntos, um casal vai se juntando aos poucos. As arestas vão sendo aparadas. As peças a serem coladas vão se amoldando uma a outra, todos os dias um pouco mais.
Na separação dos irmãos, mesmo quando um deles não resiste à cirurgia, o que sobrevive passa a viver melhor, liberta-se. Ganha a sua individualidade.
Na separação de amantes tão ligados, o sobrevivente é parcialmente sepultado. Vai-se embora a expectativa de outros dias felizes, vai-se embora a convivência de todas as horas, boas e más. Some até mesmo a conivência de quem conhece tão bem não só as qualidades, mas também os defeitos do outro. Foi-se embora o planejamento de velhos caminhando abraçados ou de mãos dadas pela areia da praia. Fica a necessidade de construir novos vínculos, novas relações e novos caminhos para os quais não conseguimos encontrar mais coragem, disposição, ânimo, saúde ou tempo. Os dias contigo tinham manhã, tarde e noite. Os sábados, domingos e feriados nos encontravam juntos o tempo inteiro. Tinham cores e sabores diferentes. As comidas de hoje prestam-se tão somente à alimentação, deixaram de lado o prazer. As cores tendem para o cinzento. Exatamente como costuma ocorrer nas manhãs chuvosas dos finados.

domingo, 20 de setembro de 2009

Márcia, quatro meses de ausência.

Ontem, quando estava entrando no banho, caiu uma chuva forte, com raios e trovoadas. Pensei em deixar para mais tarde, mas como o barulho dos trovões estava distante julguei que daria tempo se eu fosse rápido. Quando terminei de me ensaboar (ou ensabonetar), acabou a energia. A completa escuridão, a água fria e a espuma espalhada pelo corpo todo, me deram uma dimensão destes tempos.
Chuvas, raios e trovoadas, escuro, frio, solidão e abandono tem sido meus parceiros e parceiras desde a tua partida.
Acendi uma vela e, por desencargo de consciência liguei para a Elektro (não sei como, o telefone ainda funcionou por uns minutos). A atendente disse que o retorno estava previsto para as 22:00 horas. Coloquei para cozinhar um arremedo de sopa e sentei no sofá da sala ao lado de inúteis controles remotos de televisor, vídeo e antena. Cercado pela parafernália elétrica e eletrônica fiquei contemplando a chama alaranjada da vela como faziam os homens das cavernas diante das fogueiras.
Pensei nos meus plantões noturnos e nas vezes que essa mesma situação deve ter ocorrido quando você estava sozinha.
A chama bruxuleante da vela, os barulhos no forro e no telhado, os pingos da chuva nas telhas e nos vidros das janelas, o vento assobiando nas folhas das árvores e dos bambus, os clarões assustadores dos raios rondando o quintal e o som dos gigantescos tambores dos trovões que parecem chacoalhar a casa.
Não foi o medo do escuro que me fez chorar. Foi ter te feito passar por isso sem estar ao teu lado. Foi não ter corrido para esquentar água para o fim do teu banho. Foi não ter dito alguma bobagem só para que você soubesse que eu estava ali no escuro e não ter te levado uma vela ou uma lanterna. Foi não ter ficado ali abraçado contigo olhando a chama da vela ou fazendo figuras com as sombras na parede. Foi ter permitido que por algumas horas, nas irrecuperáveis noites dos plantões, você pudesse ter sentido ainda que uma pequenina parte desta monstruosa solidão. Se soubesse o que sei agora e se o tempo voltasse, eu não te deixaria uma única noite sozinha, para que não houvesse a menor possibilidade de você passar por isto.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Passeios com Felipe.

Esta semana estivemos, eu e meu neto Felipe, na casa de minha cunhada Anatel.
Ficamos mais uma semana sem sinal telefônico e resolvi visitá-la.
Enquanto conversávamos, na varanda, a respeito dos inúmeros problemas que ocorrem nas telecomunicações, e que prejudicam sobremaneira os moradores das pequenas localidades, Felipe veio correndo, muito assustado, nos apontando para o gramado onde, a seu modo de ver, ocorria uma desgraça.
Um grande cachorro branco tinha trepado sobre uma cadelinha marrom e a estava “machucando”. Para corroborar essa impressão do menino, a cadela gritava sem parar. Eu fiquei meio sem jeito, mas Anatel sorriu.
Enquanto tentava encontrar as palavras adequadas para explicar, a uma criança tão pequena, o que ocorria, Anatel tomou a dianteira:
- Queridinho, não é nada não. Telefonica só vai estar fodendo a Clientela!
- Porra Anatel, assim não, devagar com o andor! – esbravejei eu – E ainda por cima no gerúndio?.
Sacudindo os ombros, minha cunhada esclareceu que o grande cachorro branco era filho de Telefo e de Nica, casal de cães de origem européia, e Clientela era uma cadelinha criada ali mesmo no bairro.
Clientela estava amarrada a uma corrente e não poderia fugir dali. Já Telefonica vivia em liberdade, à vontade, e podia fazer o que lhe desse na telha.
Quando nos despedimos, Felipe se negou a beijar a "tia".
Já no caminho de volta, com a cara amarrada, me perguntou:
- Porque a Clientela tava presa?
Antes mesmo que eu respondesse, soltou outra:
- Não gosto da Anatel!

sábado, 29 de agosto de 2009

Cem dias sem você.


Passaram-se cem dias da tua partida e ela ainda dói demais. Passou a tontura e as costelas doem pouco, principalmente nas noites mais frias, mas nada se compara ao que sinto pela tua ausência. Se estas duas fraturas continuam doendo, por quanto tempo doerá a amputação que nos separou? Em quanto tempo cicatriza o corte invisível que leva metade do nosso corpo? Demoramos quanto tempo para nos acostumarmos a continuar em pé quando os apoios e o chão nos são retirados? Onde se pode agarrar se a parede deste profundo poço escuro e frio parece ser feita de aço inoxidável liso? Se não há reentrâncias para fixar os pés ou cravar as unhas?
Não sei as respostas. Aliás é absolutamente impressionante como não sei mais nada, como tenho deixado coisas espalhadas e não consigo lembrar-me delas alguns instantes depois. É como se tivesse perdido também parte da memória ou como se me lembrar dessas coisas pequenas não tivesse a menor importância quando comparado com a tua perda.
Os óculos, lápis, papéis e outros objetos, algum tempo depois acabo encontrando, principalmente na baderna em que estão as minhas coisas sem a tua organização, mas onde me encontrar? Como é que posso ter perdido você se já sabíamos que eu ia me perder também? Se continuam dizendo que olhando pra você ou pra mim, isoladamente, viam a nós dois, o que é que eu faço se mesmo diante do espelho não vejo nada a não ser a tua falta?
Achei num arquivo a cópia de uma fotografia que fiz no Horto Florestal com você e o Diogo, há quase trinta anos. Chama a atenção o teu rosto de menina e o teu olhar distante ou perdido, como distante de tudo e perdido estou eu agora.
É como se estivesse internado. Não num leito de hospital com atendimento de médicos e enfermeiras e remédios com hora determinada. O leito é o nosso, vazio e gelado. Não há atendimento e não há medicamentos. A convalescença é demorada e isolada como se o mal fosse contagioso. A dor por vezes é quase insuportável e me contenho para não gritar. Fechada a garganta, o silencioso grito transborda pelos olhos.Eu que muitas vezes receitei o tempo como curativo para esse tipo de sofrimento estou tentando me automedicar, sabe-se lá por quantas outras centenas de dias.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Locupletemo-nos!

Caro José Ribamar, apesar de não nos conhecermos pessoalmente, com certeza temos muitas coisas em comum. Eu mais conhecido por Flávio e você por Sarney (as duas palavras com seis letras), você morando no Maranhão e eu em Miracatu, ambos começando com a letra M e com a mesma quantidade de letras, oito. Com certeza isso já bastaria para nos tornar próximos. Você nasceu no estado cuja sigla é MA e eu no estado cuja sigla é SP, ambas, por mais impressionante que pareça, com duas letras. Você nasceu no ano de 1930 e eu no de 1950. Três dos números são idênticos e tanto o três quanto o cinco apresentam uma curva na parte inferior. Nós dois lidamos com Política e Literatura. Você foi Presidente da República e eu Presidente da Cruzada Eucarística Infantil. Nos dois escrevemos e ambos temos obras de insignificante conhecimento e reconhecimento públicos. Isto só já seria mais do que suficiente para que partilhássemos uma churrascada na mansão que você tem na praia de Calhau, em São Luiz, ou aqui na modesta casa (de campo já que no interior de um sítio) em Musácea.
Estas coincidências todas, entretanto, nada significam diante do mais importante. Ambos somos avôs. E absurdo dos absurdos, ambos temos netas com o magnífico nome de Beatriz, imortalizado pelo eterno Jobim (não o seu ex-companheiro de Senado, mas o Antônio Brasileiro, o Tom). Tais similitudes me deixam com os pelos do corpo eriçados. Nos proporcionam, muito mais do que uma grande amizade, quase um parentesco.
É escorado nesse parentesco e nessa infindável série de semelhanças (além das já citadas, ainda temos dois olhos, dois braços, duas pernas, uma calva que avança em direção ao cocoruto, bigodes (os meus mais comedidos e acompanhados por uma barba) e sermos ambos brasileiros) que venho pleitear-lhe alguns cargos (da nossa cota, permita-me chamá-los assim) para pessoas da minha família (ou nossa, como demostrei às escâncaras).
Quero salientar, caro amigo, que minha neta Beatriz, de quatro anos, ainda não tem namorado, como a sua Beatriz. Esse pequeno detalhe, entretanto, não impede que você providencie uma colocação de bom salário (como fez com o nosso querido Henriquinho, namoradinho de nossa Beatriz, sua neta) para alguém indicado pela nossa Bia (minha neta).
Como aposentado explorado pelo outro José (o Serra), coloco o meu nome à sua disposição para a nomeação (secreta ou não) num dos órgãos da Capital Federal onde temos cotas de empregos. Obviamente só permanecerei no cargo até que a nossa menina (minha neta) firme-se com algum pretendente, o que deve ocorrer por volta de dois mil e vinte e cinco, quando o pai a deixará namorar.
Tomo tal iniciativa, obviamente por necessidade, mas também para cumprir a máxima defendida pelo nosso querido Barão de Itararé “Ou restaura-se a moralidade ou nos locupletamos todos”.
Um beijo para a Marly e para as crianças e um fraternal abraço pra você.
P.S. – Tenho certeza da dificuldade que tem o amigo, apesar de literato, em entender o significado da palavra moralidade, mas é óbvio que o encontrará em qualquer dos dicionários de mediana qualidade à venda em quaisquer livrarias e supermercados.

domingo, 23 de agosto de 2009

Caradura (Persona descarada, atrevida y sinvergüenza)

A desfaçatez da Telefonica é impressionante.
Em que pese os “especialistas” da “empresa” terem demorado três semanas para reparar o defeito, a conta dos serviços não prestados pela dita cuja, chegou no prazo costumeiro. E nos mesmos moldes dos estelionatos praticados anteriormente, quando cobraram minutos conectados na Internet aos que adquiriram um pacote chamado de “Internet ilimitada”, agora queriam cobrar os dias em que não forneceram os serviços.
Recebi a “nota fiscal fatura de serviços de telecomunicações” na qual consta o período de 19/07 à 18/08, exatamente o mesmo em que a “central” apresentou o defeito. Ainda assim na conta constavam os valores integrais da assinatura mensal e do pacote de Internet. Obviamente berrei assim que abri o envelope.
Liguei para o 10315 e disse que caso não houvesse a correção iria ao Ministério Público para apresentar representação. Depois de alguns instantes de espera, disseram que mandariam uma nova conta, com novo vencimento.
Ontem recebi uma nova fatura com valores menores e uma carta, sem assinatura e sem nome do signatário.
A absurda cara-de-pau, ou caradura que é como se fala em espanhol, está manifestada no segundo e no terceiro parágrafos da carta:
Conforme sua solicitação, analisamos os sistemas de rede, os equipamentos de tarifação e os lançamentos efetuados em sua conta telefônica e não identificamos qualquer anormalidade que pudesse gerar cobranças indevidas.
Entretanto, por valorizar o nosso relacionamento, vamos conceder excepcionalmente nesta conta o ressarcimento do valor cobrado conforme a sua solicitação.
O papel termina com um “Atenciosamente, Diretoria de Atenção a Clientes”, o que explica a canalhada toda. Como não há nome e tampouco assinatura de qualquer diretor fica patente que não há nenhum responsável por essa Diretoria assim como não há nenhuma atenção aos clientes. Pior! Quantos dos clientes lesados pagaram, e pagam, integralmente suas contas como se o serviço tivesse sido prestado?

sábado, 22 de agosto de 2009

Vantagem dos pombos correios quando comparados com a Telefonica.

Conforme disse anteriormente, a Telefonica (a tal empresa espanhola que controla a telefonia fixa em São Paulo), me obrigou a um exílio indesejado por vinte e hum dias, nos quais não pude fazer ou receber ligações e acessar a Internet. Durante todo esse período liguei várias vezes para a central de desatendimento da empresa para solicitar reparo na linha. Como consolo fiquei sabendo que o problema não era só meu e sim na rede do bairro, por um “defeito na central”.
No início imaginei, apesar dos fios não serem subterrâneos, que as chuvas tivessem causado a interrupção do sistema, afinal em julho choveu o que pareceu ser um ensaio geral para o próximo dilúvio. Quando as chuvas pararam e o sinal de linha não voltou julguei que algum cachorro tivesse mijado num dos postes (antigamente, segundo a sabedoria popular, isso bastava para que os telefones não funcionassem).
As atendentes da empresa (que devem passar por treinamento para mentir sem constrangimento) informavam sempre que os reparos estariam terminados no dia seguinte e algumas até informavam o horário, com minutos e tudo.
Uma vez que nada adiantou, resolvi ligar para a Anatel. Aprendi que não se pode ligar à noite e nos finais de semana, não funciona. Aprendi também que você precisa ter saco pra ouvir uma musiquinha por cinco ou seis minutos e, quando a ligação cair, ligar novamente. Numa dessas vezes, depois de oito minutos, fui atendido e contei o drama à operadora. Recebi um protocolo e o prazo de cinco dias para que tudo se resolvesse. Decorridos seis dias liguei e a mocinha informou-me que só se devem contar os dias úteis. Faltava um dia. Para não ter erro esperei dois dias e liguei novamente. Depois do tradicional “espera, musiquinha, espera”, fui afinal informado que tudo já estava resolvido, que eu já tinha sido informado e que os valores cobrados indevidamente pelo tempo sem telefone, me seriam devolvidos no próximo mês.
Considerando-se que o telefone teimava em permanecer mudo, que ninguém havia me informado absolutamente nada e que eu financiaria, por alguns dias, a empresa espanhola, resolvi soltar os cachorros. Depois pedi desculpas à moça e informei-a que a Telefonica havia mentido desavergonhadamente. Ficou de reabrir o protocolo (???) e disse-me que o prazo agora seria de dois dias.
Por coincidência o sinal voltou no dia 12 , ao final desse prazo. De lá para cá, já me ligaram três vezes, para saber se o aparelho está funcionando (acho que também não confiam no serviço executado!). Numa dessas vezes o rapaz me preveniu que o valor a ser cobrado estaria errado e que a diferença me seria devolvida na conta do mês que vem (provavelmente o Código Penal não pune furto ou estelionato anunciado com antecedência). “Nem a pau!” argumentei eu.
Por via das dúvidas pedi a emissão de uma conta com os valores corretos e solicitei ao banco o bloqueio temporário do débito automático.
É claro que tanto a Telefonica quanto a Anatel estão, digamos polidamente, defecando e caminhando para os consumidores, mas assim também já é demais.De qualquer maneira estou procurando criadores, se ainda existem, de pombos correios. Com certeza absoluta muito mais baratos e eficazes além de comestíveis numa eventualidade. Fora todas essas vantagens, as cagadas que fazem servem magnificamente para adubar uma horta o que não é o caso das concorrentes.

sábado, 15 de agosto de 2009

Que bom, amanhã é sábado.


O pôr do sol, o final da tarde e o céu avermelhado sobre os morros não mudaram ou são muito parecidos com os que assistíamos.
Os pássaros que voltam para os seus abrigos, as últimas abelhas que retornam carregadas para suas colméias e os morcegos que iniciam suas buscas por alimentos não alteraram suas rotinas.
Nada mudou e tudo mudou, absurdamente.
Minhas caminhadas no horário da tua volta não são mais as mesmas.
Continuo precisando, talvez mais ainda, fazer exercícios, mas as idas e vindas pelo caminho perderam a graça.
Não te encontro mais na caminhada. Não vejo mais o sorriso no teu rosto cansado. Não há mais beijos. Não faço mais piadinhas. Não te puxo pelo braço pra me acompanhar só para ouvir a recusa e o “Não parei o dia inteiro”. Não te abraço mais pra voltarmos lado a lado.
Numa sexta-feira, como hoje, não ouço mais o “Que bom, amanhã é sábado”, quando você entrava em casa.
Dizem os médicos que continuar caminhando é bom para o coração. Sei que me sentia muito melhor antes da tua partida e se continuo fazendo essas caminhadas é por teimosia e pra melhor recordar. Quem sabe, no íntimo, por alguma vã esperança de que o ônibus que te trazia pare e que você apareça e sorria novamente.
O certo é que algumas vezes as lembranças e a saudade passam dos limites e vazam pelos meus olhos. Se me perguntarem, como estamos no inverno, vou dizer que é o vento frio do cair da noite que bateu em meu rosto.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Telefonica e Presunto

Uma destas frias e solitárias noites, depois de perambular com o controle remoto pelos canais de televisão assisti parte de um programa sobre gastronomia. O apresentador estava na Espanha e mostrava uma magnífica criação de porcos destinada à fabricação do Jamón Joselito (considerado o melhor presunto do mundo). Presunto que, diga-se de passagem, não é para o meu e nem para o seu bico, já que, na Internet, sem impostos, 100 gramas custam o equivalente a cinqüenta reais. Com o alto valor dos impostos nacionais, a menos que você seja cliente de uma daquelas lojas cujas proprietárias burlam impunemente o fisco, vai acabar pagando uns cem reais pelas tais cem gramas.
Bem, se isso não é recheio para o meu pão integral, por que é que me veio à cabeça?
Ocorre que desde o dia 23 do mês passado até o início da tarde de ontem eu e os moradores de Musácea ficamos sem telefone e, conseqüentemente, sem Internet. A empresa, espanhola como os anteriormente mencionados porcos, alegou problemas na central. Nas inúmeras ligações que fiz, de um celular que funciona quando quer, as atendentes sempre me diziam que o conserto estava previsto para o dia seguinte, o que demorou vinte e hum dias.
Então, se a manutenção da Telefonica é porca, se o serviço que prestam é porco e se são porcos tanto a atenção quanto o respeito pelos seus clientes (que não tem para onde fugir), ao menos deveriam nos mandar umas fatias do tal presunto para que pudéssemos ir degustando enquanto esperamos que as falsas promessas das atendentes se concretizem (fico imaginando o que sofrem essas moças sendo obrigadas a mentir todos os dias). Entre os clientes brasileiros e os porcos, fica a certeza que os empresários espanhóis tratam melhor os porcos.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Renascimento

Numa destas noites estive no lançamento do livro de um grande amigo, a quem promovi ao degrau superior de irmão adotivo, e, entre os presentes, encontrei uma querida amiga que não via há muitos anos.
Conhecedora dos meandros da alma humana saiu-se logo com um “como você está lindo!”, deslavada mentira capaz, entretanto, de quebrar quaisquer resistências e amolecer corações por mais doloridos e empedernidos que estejam.
Depois de um reconstituinte, reconfortante e demorado abraço durante o qual escutei, apesar do silêncio, um seja forte, um sinto muito e um meus pêsames, disse, aí já claramente, com todas as letras e um sorriso nos olhos e nos lábios: “Vem ver minha filha”.
Fomos até o final da fila dos autógrafos e lá estava, guardando o lugar, uma linda moleca/mocinha de cabelos ondulados claros. Uma menina, no início da adolescência, de lindos e significativos olhos, bem vestida e bem tratada a demonstrar os cuidados maternos.
Minha amiga e o marido nunca tiveram filhos e resolveram presentear-se com aquela maravilha. Não sei como se deu a garimpagem, mas ficou-me claro que a pedra preciosa sabe exatamente de onde é originária. Diferentemente das corridas ao ouro, onde impera o segredo, neste caso a valiosa gema conhece ou sabe a exata localização da mina.
Além da imensa satisfação por encontrar estimados amigos rodeados de felicidades, nestes tempos tão difíceis para mim, a visão da menina a quem vou chamar de Renata, pelo maravilhoso renascimento, só comprova meu cansativo discurso de que todas as crianças são lindas. As condições e o meio em que crescem é que podem torná-las melhores ou piores, adultos bonitos ou feios (interna e externamente).
A ganância e o sistema de riqueza a qualquer custo é que impedem que toda e qualquer criança possa se tornar uma Renata, de infância e adolescência cheias de carinho, alimentação e cuidados e uma adulta, responsável, preocupada com os seus e com todos os outros.
O mesmo sistema perverso feito para impossibilitar que a maioria das crianças e jovens, sem a sorte da Renata, deixem de ser artistas ou médicos que possam curar as dores, as feridas e as doenças, da alma e do corpo, não num futuro distante, mas agora, hoje ou amanhã.
Impressionante além disso, pelo que vi nos olhos da minha amiga, como Renata, sem ser médica ou artista ainda, já deu conta de lhe prescrever sorrisos e olhos felizes.
Quem sabe um dia o mundo perceba que amor e felicidade são remédios dos quais se beneficiam quem os recebe e mais ainda quem os ministra.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Banzo

I
Alguns me dizem que você se foi porque sua missão aqui estava cumprida.
Como assim?
Já disse algumas vezes que se eu, teus filhos, netos, parentes e amigos tivéssemos sido consultados, unanimemente diríamos que não. Diríamos que você era absurdamente necessária e absolutamente insubstituível.
Digamos então que a esse destino seja impossível qualquer objeção. Restaria ainda a viagem em si, a forma como se deu.
Quem tem suas missões cumpridas despede-se dos parentes e amigos, avisa com antecedência, prepara as malas para a ida. Caso não necessite de alimentos, abastece-se ao menos de afagos e carinhos, mesmo os de última hora, ali ao pé do transporte.
Quem cumpriu sua missão, antes do embarque, abraça e beija. Olha nos olhos e não consegue impedir que os seus fiquem marejados. Que despedida é essa na qual apenas quem fica na plataforma, enquanto o comboio se afasta, chora?
II
Não consegui pintar ou imprimir mais nada. Quando a minha mesa de trabalho, freqüentemente, estava como agora, era você que dava jeito na bagunça. Era você que organizava, era você quem conseguia abrir uma clareira de trabalho em meio àquela selva de potes de tinta, pinceis, formões, goivas, rascunhos, solventes e panos sujos. Você desbravava aquelas florestas, feito Rondon, pacificando os elementos que acabariam virando quadros ou gravuras. Mais do que isso, era você quem se lembrava onde estavam guardadas as coisas todas. Era você quem tinha o inventário não escrito dos meus pertences, assim como tinha o das minhas dores.
III
Se a partida teve algum objetivo foi o de demonstrar o quanto fui egoísta e dependente de você. Já estava claro antes e mais ficou depois. O tratamento a que estou sendo submetido é o de choque. Me lembro de um conhecido nosso, alcoólatra, que foi internado e os médicos lhe ministravam suco de laranjas com doses cada vez menores de bebida alcoólica. Não sei se era o tratamento adequado e nem se ainda é aplicado. Na época achamos que o gradual tinha cabimento. O que me foi receitado é o da parada abrupta. Tudo o que eu tinha ao seu lado me foi retirado. Tudo o que me satisfazia foi suprimido. Assim de chofre, de um instante para o outro.A tua ausência, nestes exatos dois meses, tem provocado em mim, além das lágrimas e do imenso sentimento de perda, uma tristeza de manhã nublada, fria, com garoa. Daquele nosso conhecido, quando enxergava bichos sobre a geladeira, dizia-se que estava com delirium tremens. À meu respeito nada dizem os médicos. Esse sentimento, esse estado geral pode chamar-se simplesmente banzo, nostalgia, saudade. Gigantescas saudades.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Retrato em branco e preto


Muitas vezes escutei “Retrato em Branco e Preto” de Chico Buarque e Tom Jobim.
Uma das que me recordo, apesar da música ser de 1968, foi por volta de 1971/1972 quando ainda fazia curso pré-vestibular em São Paulo. Não sei se estava sendo tocada no rádio ou se algum dos alunos ou alunas a estava cantando. A segunda hipótese é a mais provável.
Subíamos as escadas do cursinho e quando olhei para cima procurando ver de onde vinha o canto, topei com a visão de bem desenhadas nádegas, parcialmente embaladas e protegidas por uma calcinha quadriculada alvinegra. A mini saia ora protegia ora mostrava o monumento (era um cursinho para arquitetura) e pensei, maldosamente, que sobre aquelas duas colunas ela poderia assentar o seu futuro. Não lembro quantos andares tinha o prédio, mas, tanto na minha opinião quanto na de alguns outros companheiros de degraus, a escadaria pareceu mais curta e menos cansativa naquela noite. Devo esclarecer que estávamos no centro de São Paulo, perto da avenida Nove de Julho, numa noite de meio de semana e, pelo menos no meu caso, depois de uma jornada cansativa de trabalho.
A moça era uma das alunas da minha classe e queira ou não a música passou a freqüentar a minha memória como trilha sonora do tal vídeo imaginário.
Eu ainda não namorava a Márcia.
Depois que nos casamos, poucos anos depois, vimos a tal moça, como apresentadora de televisão e comentei essa história. É claro que ela teve aquele sorriso tipo amarelo e a simulação de ciúme, mas selamos o tratado de paz com um carinho e um beijo.
Agora ouvi novamente a música. A primeira vez depois do acidente.
É impressionante o que pode fazer um choque ou uma perda tão grande.
O que me emocionou foram cenas bem mais recentes. O que me comoveu foi traduzir a letra em imagens das caminhadas que fazíamos. Foi rever, na memória, as idas e vindas da casa até a entrada do sítio, junto à estrada.
"Já conheço os passos dessa estrada...
Seus segredos sei de cor.
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali sozinho
Eu vou ficar, tanto pior."
Quantas vezes andamos juntos por ali conversando ou rindo de alguma coisa?
A tarde em que caminhamos conversando sobre coisas do passado e nos sentamos, ali mesmo, no meio desse caminho, sobre a terra e a grama, e choramos juntos. Depois voltamos abraçados pra casa.
Quantas vezes escrevi sobre as andanças dos nossos pais e irmãos, já falecidos, por estas mesmas pedras e por este caminho enriquecido e particularizado pelas raízes das astrapéias?
Quantos desenhos, fotografias e gravuras já fiz deste caminho?
Apesar da constante e perene transformação, causada pelas chuvas, pela erosão, pelo andar até das formigas, pelo nascer e morrer das raízes, pelas marcas dos pés das pessoas ou dos pneus dos carros, não é errado dizer que conheço este caminho e suas pedras.
Menos errado ainda é dar razão ao Chico quando me relembra de que vou ficar ali sozinho.
Tem sido assim todos estes dias e noites.

"Novos dias tristes, noites claras,
Versos, cartas, minha cara
Ainda volto a lhe escrever."

Tem sido outros os retratos. Não mais juvenis ou brincalhões como os de outrora, mas aqueles profetizados pelo poeta:

"Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração."

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Fio de nylon

Hoje resolvi cortar a grama. Para não forçar demais as costelas, apanhei a roçadeira elétrica muito mais leve que a outra, à gasolina.
É impossível não lembrar de você nestas horas. A companhia para manter o gramado limpo. As botas de borracha. Andar na frente procurando a sujeira dos cachorros e retirá-la com a pá para que o fio de nylon não espalhasse bosta pra todos os lados, incluindo as pernas da calça. Juntar e recolher a grama para virar adubo. Inverter as posições, você acionando a roçadeira, eu ajudando. A impossibilidade de alcançar a grama e o mato do caminho até a porteira, apesar das extensões do fio elétrico.
Não há como não lembrar de você quando o fio tritura as folhas caídas da canforeira e o cheiro se espalha lembrando linimento para dores (totalmente ineficaz nos ferimentos invisíveis).
É impossível esquecer que no trágico dia passamos, a seu pedido, na concessionária para comprar o kit de nylon para a roçadeira mais potente e com muito mais autonomia. Eu dizendo que ia comprar, mas que seria para que você usasse. Você sorrindo dizendo que ia aprender. Não há como não pensar, inutilmente, que o tempo gasto na compra poderia ter evitado o acidente.
Afastar do pensamento o propósito de deixar a grama crescer abandonada, mais ou menos como eu me sinto sem a esposa, sem a amiga, sem a companheira, sem a amante, sem a enfermeira, sem a minha melhor parte. Manter afastada essa idéia mesmo depois de ter a certeza de que, você não vai apreciar e comentar o resultado.
Tentar deixar o gramado limpo, com jeito de tratado, mais pelo trabalho que distrai e exercita, pelo calor do sol nestes dias tão frios e pelo eco de sua voz sempre que o fio de nylon acaba ou prende no cabeçote difícil de abrir:
-Troca o fio pra mim?

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A Márcia (x) absolutamente especial.

Senti vontade de dizer dessa condição de peculiaridade dela ao reler, como já o fiz tantas vezes, algumas das coisas que ela mandou pra mim pelo celular. Continuo mantendo ligado o celular que ela usava. Continuo lendo os vários “eu te amo” e a mensagem que me mandou no dia do meu último aniversário. Estão gravadas na memória do aparelho.
Lendo e lembrando-me das palavras que dizia, é que me veio a convicção de que especial é a pessoa que consegue encontrar atributos em outras pessoas. Não bastasse encontrar tais atributos, ou não existentes ou, ao menos, escondidos ou comuns, essa pessoa, verdadeiramente especial, as divulga e propala dando ao portador esse rótulo de diferenciado.
O especial é o portador dessa humildade e dessa generosidade que dignifica o outro.
É como se o drible desconcertante fosse totalmente insignificante sem a torcida que o aplaude. Como se a jogada magistral fosse feita no interior de um quarto escuro, sem que a platéia pudesse vê-la. Não é a jogada que é admirável, é a luz que nos permite vê-la. É o espectador e o aplauso que tornam o ato magnífico.
Minha luz e minha torcida, meu incentivo, meu aplauso.
Essa é a pessoa que me acompanhou nos últimos trinta e cinco anos de casados.
O “x” do título é, mais do que uma indecisão, uma imposição dada pela palavra “ser” que eu pretendia usar.
Minha intenção inicial era colocar um dos tempos do verbo. Pensei no passado e estava entre o “era” e o “foi”. Entretanto, da maneira como ainda a sinto nos meus dias e noites, julguei melhor utilizar o presente “é”. Logo depois achei que seria o caso de usar todos os tempos “foi, era, é, será” ou apenas o próprio verbo “ser”. Aí surgiram as conotações do substantivo “ser”: individuo ou pessoa, ente ativo, animado, vivo, existente. Como numa sentença matemática ficou o “x”. Podem mudar os valores ou as palavras citadas. Os resultados são iguais ou equivalentes: Uma pessoa absolutamente especial

sábado, 20 de junho de 2009

Cometa loucuras

Diga a quem você ama que a ama. Diga com freqüência, mesmo correndo o risco de parecer piegas. Dane-se a opinião alheia. Diga pelo celular, onde você estiver. Por e-mail, por carta, com envelope, selo e papel escrito à mão. Nunca corra o risco de ter dito menos do que devia. Nunca corra o risco de ser surpreendido não podendo dizer mais, nunca mais.
Ame na cidade, no campo, no litoral. Na casa, na cama, no tapete da sala de estar, na varanda, na rede. Ame na mesa de jantar, no tanque, na banheira, no banho. Ame à noite, de madrugada, durante o dia, antes de sair para trabalhar. Surpreenda, cometa loucuras!
Saia para passear. Saia pra lugar nenhum. Caminhem juntos. Saia de carro, pegue uma boa estrada, pare pra tomar um café e volte. Saia para um almoço ou jantar ou mesmo para um café da manhã. Convide-a para umas ostras gratinadas, para escargots, para queijo gorgonzola, azeite extra virgem e pão fresco, alguma coisa que ela não esteja esperando. Tome um vinho, mesmo que ela escolha um vinho licoroso e não o tinto seco que você mais gosta.
Ande de mãos dadas, não importa a idade que você tenha. Abrace. Beije, acaricie.
Saia pra tomar chuva. Na volta tome um banho quente. Juntos.
Discuta, se houver absoluta necessidade, geralmente não há. Sozinhos, para que ninguém saiba. É impossível concordar sempre, mesmo que seja com você mesmo, diante do espelho. Faça as pazes o mais rápido possível. Comemore o reencontro, mesmo que a ausência não seja longa. Dê presentes, ainda que seja uma flor simples encontrada à margem do caminho. Quem recebe sempre gosta, mas geralmente quem oferece fica mais gratificado.
Pode ser que alguma calamidade aconteça e elas sempre acontecem sem que ninguém espere, sem prévio aviso. Normalmente duram uma fração de segundo e vão repercutir por todo o resto de sua vida. Pode ser que você não tenha mais nenhuma oportunidade de fazer quaisquer dessas pequenas ações.
Se a pessoa, objeto de seu amor, puder se recordar, onde estiver, em qualquer dimensão, de alguma dessas ditas “loucuras”, por certo será com a certeza de que foi muito amada.Você, certamente, vai sofrer e vai chorar. Chorará a saudade do que viveram e a perda do que poderiam ter. Sentirá, todos os dias, a falta do que ainda teria. Terá, contudo, muito do que se recordar. Ouvirá o testemunho daqueles que algum dia os viram juntos e felizes. Sobrarão as recordações e a saudade. Sobrará a certeza de que amou verdadeiramente.

terça-feira, 16 de junho de 2009

O universo não cumpre acordos

As flores dessa foto foram colhidas no dia oito de novembro do ano passado. Tínhamos saído para caminhar e, na volta, as colhi para dar a ela. Como era aniversário de namoro e de noivado (trinta e seis e trinta e cinco respectivamente), achei que caberia o gesto e o humilde presente, ainda mais que ela, provavelmente, não imaginava que eu me lembraria.
Essas plantas, apesar de muito comuns próximo do litoral, não existiam por aqui e resolvi apanhar as que julguei mais viçosas. No total consegui cinco flores e disse a ela que cada uma representaria dez anos de noivado, a contar do início, em 1973. Comigo, com meus botões e com o Universo combinei de colher outras tantas neste ano, renovando o pacto, com medo de fixar em apenas cinqüenta anos o prazo selado ali. Estaríamos então beirando os setenta anos, um pouco mais e um pouco menos, e acompanharíamos o crescimento dos netos.
Sempre achei que os filhos são a grande oportunidade de entendermos nossos pais. Com os nossos erros é que entendemos e perdoamos os dos nossos pais. Com nossos filhos é que temos a certeza de que grande parte daquilo que julgávamos castigos, excessos ou cuidados demasiados dos nossos pais, era na verdade amor. E se eles ainda forem vivos temos a maravilhosa oportunidade de agradecer-lhes e eventualmente desculparmo-nos uns aos outros.
Se nos for dada, então, a oportunidade de acompanhar o crescimento dos nossos netos, poderemos servir de intermediários nessas pequenas, ou grandes, desavenças ou atritos e, quem sabe, tudo ficaria mais fácil.
Esse contrato tácito beneficiaria, portanto, a mim principalmente, pela desejada companhia, mas também aos filhos, às noras e aos netos e, com certeza aos demais parentes e amigos.
Infelizmente não adiantou e, pior, não há instância ou tribunal a quem reclamar.
Por mais corretos e necessários que sejam os acordos, o universo não os cumpre.

domingo, 14 de junho de 2009

Cama polar

Não sei por que cargas d’água sempre dormi do lado esquerdo.
Não sei se há algum estudo sobre isso. O lado que os casais escolhem pra dormir.
Por ser canhoto e usar esta mão para desligar o despertador? Mesmo depois que você passou a controlar o relógio, mantivemos os lados originais, independentemente de camas, casas ou lugares. O braço esquerdo livre para os afagos ou, antigamente, mais próximo do cinzeiro? As poucas vezes que mudamos, não nos sentíamos confortáveis.
Muitas vezes uma cama de solteiro bastava pra nós dois. Até mesmo um sofá na sala, como aquele da Vila Mariana, o primeiro, aquele de madeira aglomerada, maravalhas ou raspas de madeira coladas, disfarçado e vendido como móvel laqueado, que não resistiu à primeira estripulia e que durante alguns meses apresentou uma lata de óleo como suporte ou escora da travessa frontal remendada. Nossas camas de casal muito mais resistentes. A de São João Novo, que construí com pinho do Paraná e cujo estrado dura até hoje.
Me dei conta disso, mais detidamente, agora, depois do acidente. Com as costelas quebradas do lado direito, só me é possível deitar de costas ou sobre o lado esquerdo. Eu que me virava diversas vezes à noite e desmanchava totalmente a sua arrumação dos lençóis.
Todos estes dias, já com o frio de junho, não consegui virar-me para o seu lado para ter certeza de que você não estava lá. Meu braço te puxando pra junto de mim ou, a contrapartida, teu peito aquecendo minhas costas. Perfeitos e aquecedores encaixes.
Algumas vezes ainda tento virar-me e estico o olhar para o lado direito.
A constatação é dolorosa e solitária.
Aquele lado da cama parece uma extensa planície polar, gelada.
Inapelável e implacavelmente desabitada.
Todas as noites me sinto como um daqueles desbravadores solitários dos pólos. Com a incerteza de chegar vivo ao amanhecer ou morrer enregelado.
O explorador, ao final, comemora a glória do pioneirismo. Aqui, ao cabo de cada jornada noturna, nada há a comemorar.
Há apenas a expectativa de uma nova noite.
Outra gélida e dura travessia e uma gigantesca saudade.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Minha metade partida

Éramos duas metades de um.
A metade que se foi era a que sabia de mim, das minhas coisas.
Era a que sabia dos meus compromissos, das minhas vestes,
cortava meus cabelos e minha barba.
Cuidava do meu corpo e da minha alma, lustrava o meu ego.
A metade que partiu é a que exclamava “nossa!”, “hummm”, “ficou bom!”.
Que fazia cara de espanto e dizia ter gostado de um escrito, de um quadro, de uma gravura, de uma comida, fazendo-me crer que era verdade.
A metade que mais gostava de mim me foi tirada.
A metade que ficou dependia da que se foi!
Sobrou esta, que caminha desnorteada, deambula.
Quem vê esta metade, não a vê metade.
Imagina que é um corpo inteiro.
Meio acabado, mas íntegro.
Sequer supõe uma metade faltante, vazia.
Diferentemente dos amputados, minhas roupas,
mangas de camisas e pernas de calças, não pendem
ocas balançando ao sabor do vento.
Aparecem aos olhos alheios como se todos os membros e partes do corpo continuassem fazendo parte do conjunto.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Bodas de Fel

O casamento ocorreu há exatos trinta e cinco anos, dia oito de junho de 1974. No dia dois ela tinha feito dezenove anos e eu, em dezembro do ano anterior, vinte e quatro. Meus pais já estavam morando em São Vicente e a festa foi realizada na casa dela, em Tremembé, perto da Cantareira. Algumas das fotos mostram pessoas que nunca mais vi. Outras que continuaram sendo colegas de serviço por algum tempo e outras, muitas, que também já se foram.
Lembro-me da viagem para Santos, da lua de mel no apartamento emprestado da avenida da praia, no Gonzaga. Depois, do apartamento que alugamos na Vila Mariana. Da chegada do Diogo e da mudança para São Roque, onde nasceram o Bruno e o Fábio.
A vinda para Musácea com o Fábio de colo ainda. A permanência numa barraca de camping durante a construção da casa e os apuros que passamos, principalmente ela, durante a fase mais difícil aqui.
Tempos de absurdas dificuldades que encaramos como parte de um sonho, talvez mais meu do que dela, de criarmos os filhos longe da violência da cidade grande. Coisas daquela época de alimentação macrobiótica, cultivo da terra sem pesticidas e sem adubos químicos, ar respirável, céu e estrelas visíveis todas as noites. O apoio, a retaguarda e as dificuldades que somente a amiga e companheira, muito mais que esposa, suportaria. Nenhuma queixa e nenhum desânimo visíveis. Apenas doação. A época das plantações e colheita. A época da minha perna quebrada, a ponta da muleta afundando na terra sempre que eu procurava ajudar. A sensação de absoluta inutilidade. A permanência sozinha, com as crianças, quando fui para o hospital.
A ligeira melhoria quando passei a dar aulas. O concurso para Escrivão. Vida um pouco melhor, mas ainda assim muito distante do padrão que tínhamos em São Paulo ou São Roque. As campanhas políticas. Minhas queixas do trabalho. Seu ouvido, consolo, apoio e suporte. Reclamação nenhuma.
Os filhos se mudando para estudar ou casar. Um sítio e uma casa ficando grandes demais, apenas pra dois. Minha aposentadoria e os planos para aposentadoria dela. A chegada dos netos e a vontade dela de ir para mais perto deles. O cansaço do serviço. As viagens planejadas. Os planos, as coisas para a casa, as plantas e flores que ela cultivava.
O acidente, o tsunami, a catástrofe. A irreparável perda. A súbita retirada dos meus apoios e suportes, a perda do equilíbrio que alguns médicos chamaram de labirintite causada pelo acidente. Absurdo erro médico. Qualquer ser humano teria tonturas e cairia se lhe tirassem a parte direita do corpo que o houvesse mantido em pé por trinta e cinco anos.
Trinta e cinco anos.
Bodas de dor, de falta, de amargor, bodas de solidão. Bodas de dolorida ausência. Bodas de lágrimas. Bodas de como eu gostaria que você estivesse aqui.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Caem fichinhas todos os dias

Não são as grandes coisas que mais fazem falta. São as pequeninas que mais dão o sentido da perda. São inúmeras as fichinhas que caem. Não uma única.
É o deitar no sofá da sala, para ver televisão, e adormecer. É o levantar depois e dizer que ia deitar-se ao que invariavelmente eu respondia que ela já estava deitada. É o sorriso em seguida e o “vou pra cama” sempre acompanhado do beijo e do “vem logo”.
É o “vem senão a comida esfria”.
É o “invadir” o banheiro pra tomar banho junto.
É o dormir como conchas para encarar o frio como este destas noites solitárias de junho.
É o aguardar a chegada da escola, coisa que os cachorros ainda continuam fazendo olhando na direção da entrada do sítio, no horário do ônibus (algumas vezes olho também).
É o cochilar nas viagens de carro e o passar a mão carinhosamente sobre minha perna direita, quando algum solavanco a despertava.
É o corar e o rir de qualquer coisa depois de meio cálice de vinho.
Não é o caráter, a bondade e a personalidade, com as quais tínhamos aprendido a conviver.
Eram as ditas bobagens, as coisinhas miúdas, corriqueiras, intimas, do dia a dia.
Estas é que dão o tom da perda e transformaram o acidente em catástrofe.
Não é a dor das costelas quebradas e nem a falta de equilíbrio ou labirintite (provisórias, segundo dizem). Não são os pequenos ferimentos na cabeça ou no braço, já cicatrizados. O que dói são essas pequeninas dores como que causadas por finas e pequenas agulhas. Milhares delas cravadas pelo corpo.

E a vida continua

No final de maio, assim como numa homenagem, começaram a surgir as flores das astrapéias (cientificamente dombeyas). Primeiro apareceu uma flor da astrapéia branca, completamente aberta no dia 27 de maio como que numa celebração, ou missa, de sétimo dia em homenagem à Márcia. Depois, nos dias seguintes, outras brancas e um sem número de astrapéias rosas, como numa panela de pipocas, começaram a espocar oferecendo suas cores, seu perfume de mel, seu pólen e seu néctar aos mais variados insetos e aos beija-flores.
Em seguida, as próprias flores, os insetos, as aves, o céu, o sol demorando a esquentar e a solidão do sítio, sem a presença física dela, é que me deram a noção da nossa insignificância.
Todo início de junho é assim. Basta esfriar o tempo e as flores voltam. E voltam as abelhas, as formigas, os pássaros, o néctar, o pólen e o perfume. As gotas de néctar que caem ao mais leve chacoalhar das flores, não são lágrimas adocicadas que se contrapõe às minhas, salgadas. São, como há milhares de anos, gotas de néctar.
Não importa quão grande seja a nossa dor e o nosso sofrimento. O universo continua em movimento. Nosso pequeno planeta continua girando em torno do sol. Nosso país, nosso estado e nossa cidade continuam como se nada tivesse acontecido. Nossas ruas, nossos amigos e nossos parentes, mais próximos ou mais distantes, após o primeiro direto de esquerda, se agarram nas cordas ou recebem o auxilio do árbitro e continuam lutando por um ou mais rounds, até que a própria luta, aquela que travam pessoalmente, se encerre.
O que marca, o que vale, pra quem partiu é o que fizemos. O pequeno gesto, o pequeno carinho, uma frase de agradecimento ou de apoio. Depois talvez valham as orações e as lembranças. Para os que ficam valem as recordações e as saudades.
Quase sempre eu apanhava a primeira flor de astrapéia rosa que aparecia e a entregava a ela. Ela agradecia, me beijava e a colocava num copo com água.
Este ano fiz a mesma coisa. Coloquei a flor num copo com água e ela já está secando.
Não houve agradecimento. Não houve beijo. Não houve a menor graça.
Nada do que eu faça consegue mover o universo para trás, minutos antes do acidente, no dia 20. Absolutamente nada. Absolutamente impotente e insignificante.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Da saudade e da inutilidade dos "ses"

Tento lembrar-me dos momentos do acidente. Não consigo.
Com muito custo, lembrei-me da saída de casa. Da passagem pelo colégio para apanhá-la. Do meu teste ergométrico. Do retorno pela estrada. Das paradas para fotografar nuvens. Da entrada na cidade para pagar o débito do cartão. Da compra de comida para os cachorros. Da volta à rodovia e do acesso à Padre Manoel da Nóbrega.
Daí em diante, nada. Dos cerca de três quilômetros até o local da catástrofe, nada.
Depois, dor e o chacoalhar da ambulância numa estrada de piso irregular ou esburacado. A chegada ao hospital e a dor nas costelas, no braço e no ombro direitos. As minhas insistentes perguntas sobre ela e as respostas evasivas: “Os feridos são divididos entre os hospitais”.
O arrastar do tempo. A dúvida se estava realmente comigo. A vontade de pedir a alguém que ligasse para casa para avisá-la do acidente. Em seguida a certeza de que, como sempre, tinha me acompanhado ao médico. A quase certeza de que se meu lado direito tinha sido mais ferido e se ela estava, como sempre, ao meu lado, estaria ainda mais ferida. As inúmeras orações. O soro e os medicamentos. O silêncio em resposta às minhas perguntas. O escorrer lento da noite e da madrugada. O amanhecer e o retorno dos filhos e de minha irmã. Os lábios e os olhos da dor e a notícia de que havia sido atendida ainda sobre a pista e não resistira. O choro conjunto da perda.
Depois o inconformismo e a revolta.
Ela ainda estaria viva e ao meu lado se eu, dependente de sua companhia, não a tivesse levado comigo ou se não tivéssemos parado para quitar dívidas ou se tivéssemos parado pra tomar um sorvete, se eu tivesse andado mais rápido ou mais devagar.
Porque, se mais velho, os danos maiores ao veículo não ocorreram do meu lado? Porque não eu, se hipertenso e com problemas cardíacos? Porque não eu, se ela saberia muito melhor o que fazer depois? Se saberia onde estão guardadas todas as coisas e eu não sei. Se cuidaria melhor dos filhos, das noras, dos netos, das plantas, das roupas e da casa, do que eu. Se lembrava mais dos aniversários e das contas do que eu. Se era mais amável, mais tolerante e paciente que eu. Porque não eu?
Porque nossos pais e nossos irmãos, já falecidos, aceitaram sem nenhuma contestação, as súplicas e orações que lhes fiz, durante toda a noite e madrugada, para que intercedessem por mim a fim de que ela me fosse devolvida sã e salva, se já a tinham ao seu lado e eu ainda não sabia?
Depois, parentes e amigos falaram dos desígnios, do destino e do cumprimento de tarefas já realizadas. E eu que entendo pouco das coisas do mundo e dos homens e menos ainda das coisas dos céus e de Deus, só fico com a imensa saudade e com a certeza da absoluta inutilidade dos “ses” que tomaram de assalto a minha cabeça, ainda tonta, todos esses dias.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Bananal da Serra


Antes a banana era ouro.
Depois foi ficando prata.
Com o passar do tempo ficou nanica, nanica.
Por fim, como quem pisa em cascas de bananas,
o bananal escorregou serra abaixo
e acabou ficando terra.
Não, não. Não a banana da terra!
Só terra. Terra lavada, estéril. Só terra.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Olhar de Beatriz



Existem símbolos ou imagens absolutamente simples utilizados para identificação imediata. Os sinais utilizados no trânsito. As imagens identificadoras dos esportes nas olimpíadas.
O cenho franzido dos pais ou mães diante de alguma travessura dos filhos. O proibido estacionar.
Aquele do proibido buzinar. A grande maioria dos jovens que vê esse símbolo, jamais viu ou tocou uma buzina como aquela impressa nas imagens. Buzina de carroças ou carruagens. A visão da imagem, porém, leva imediatamente ao “proibido buzinar”. Não se discute.
Não havia encontrado, até então, o símbolo de rogo, suplica ou a imagem do “por favor”.
Mãos postas se aproximariam da idéia geral, mas acabam remetendo à oração, a algum pleito mais espiritual, transcendental. Não se aplicam ao dia a dia, ao aqui e agora, assim como não contundem.
O olhar de Beatriz, apesar de manso, suave e silencioso, é penetrante. Mais agudo que ponta de lança ou arpão. Entra pelos nossos olhos e penetra direto no coração. Fisga, crava-se. As farpas, como aquelas dos anzóis, apesar de feitas de algodão doce, fixam-se inapelavelmente.
Olhar pedinte, suplicante, rogativo. Não como aquele do “Dá uma esmolinha, pelo amor de Deus”, ao qual, quase invariavelmente, se responde “Não tenho” depois de passar as mãos pelos bolsos fingindo procurar moedas. É diferente. É um olhar de suplica impositiva, exigente, sem espaço para qualquer vacilo ou argumentação.
Olhar tatuagem. Marca de tinta nanquim, indelével. Olhar colante, grudento Como adesivo do tipo industrial, não à base de arroz ou farinha de trigo como os que eu fazia pra colar papel de seda nas pipas ou balões. Não! Cola profissional, daquelas utilizadas em construção civil, industria aeronáutica, solda de transatlânticos. Indesgrudável.
Olhar acompanhado de pequenos braços e mãos que se enrolam na perna.
Câmara alta. Silêncio. Lábios imóveis. Ordem judicial que não se discute, se cumpre imediatamente.Olhar de Beatriz de “Vovô, colo!”.

domingo, 10 de maio de 2009

Gripe Suína




Recebi esse vídeo a respeito da Gripe Suína com os conselhos do Governador e ex-Ministro da Saúde José Serra e me vi obrigado a compartilhar com o maior número de pessoas, até mesmo em função da gravidade da doença. Devem ser tomados alguns cuidados:
- Todos aqueles que criam porquinhos em casa devem agasalhá-los para que não se resfriem. Como o número de possíveis infectados está crescendo, no mundo inteiro, é de se presumir que há muito mais gente criando porquinhos em casas, apartamentos, lojas, escolas, etc, do que se poderia imaginar;
- Por via das dúvidas não se deve assistir ao filme protagonizado pelo Babe;
- Livros e revistas com as estórias dos três porquinhos devem ficar em quarentena;
- Não se aproxime dos focinhos de porquinhos, mesmo que cozidos e mergulhados em feijoadas;
- Não fica claro no filme se o Governador refere-se também às crianças, principalmente meninos, não muito chegados à higiene, vulgarmente chamados de porquinhos. Por precaução, evite o contato se estiverem resfriados;
- Há um equivoco indesculpável no filme. O Governador deixa claro que o problema são os porquinhos. Não cita, uma única vez, porquinhas ou leitoas. Isso, obviamente, inclui os leitões, mas exclui qualquer possibilidade de contágio por meio de porcos adultos. Explica o porque dos jornalistas da Globo afastarem-se de Miriam Leitão, mas não justifica qualquer menção ao Alviverde e à sua grande torcida.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Conheça Musácea...

Nas últimas eleições municipais dois residentes no bairro de Musácea foram eleitos, o vice-prefeito e uma vereadora.
Alguns amigos, moradores de outros bairros de Miracatu, depois das eleições, passaram até a comentar que a partir de janeiro próximo passado a situação ia mudar pra muito melhor. Cheguei até a argumentar que a prefeita continuaria a administração passada, já que se reelegera e havia assumido a prefeitura, vice-prefeita que era, com a saída do prefeito Miyoji Kaió.
Os amigos contestaram dizendo que agora seria diferente uma vez que prefeita e vice se davam bem, havia uma vereadora, os três eram do mesmo partido e dois, ainda por cima,
moravam no bairro. Apesar de desconfiado, achei que podiam ter razão e esperei pelo melhor.
Esperei os tradicionais cem dias de governo, encerrados no início do mês passado, e a impressão que me fica é a mesma do humorista da Globo que diz, com o pessimismo de quem acha que as coisas podem piorar: “Espera pra você ver”.
É claro que choveu muito, como também é claro que estradas de terra, sem qualquer manutenção, ficam prejudicadas e cheias de mato, mas pelo andar da carruagem as coisas podem piorar bastante.
Há algum tempo o prefeito Kaió retirou terra e cortou árvores, do interior do nosso sítio sem qualquer autorização, para fazer uma gambiarra num bueiro da estrada que havia desmoronado. Registrei um boletim de ocorrência porque as árvores estavam às margens de um córrego e pela retirada da terra. Obviamente nada aconteceu. Um agricultor que retirasse um cabo para uma enxada, poderia ter sido multado e/ou processado.
Hoje quando estava escrevendo este artigo ouvi o barulho de um trator na estrada e imaginei que os buracos estavam sendo tampados. Quando me aproximei vi que um operador de máquinas da prefeitura estava retirando, novamente sem autorização, terra do sítio e desta vez, segundo ele, para consertar um outro bueiro desabado.
Nem vou me dar ao trabalho de registrar qualquer ocorrência. Com medo da profecia do humorista, estou pensando em começar uma campanha: CONHEÇA MUSÁCEA ANTES QUE ACABE.

Resposta do Obama

É claro que o convite encaminhado ao presidente dos Estados Unidos estava dentro do espírito mencionado na mensagem que o encaminhou, mas de qualquer forma foi registrado o recebimento pela assessoria do, à época, presidente eleito. Datada de 04 de dezembro passado:

"Dear ,
Thank you for your message to President-elect Obama and Vice President-elect Biden.
The American people are sending Barack Obama to the White House to bring real change to Washington. Real change begins by building an open and transparent government and seeking input from all Americans. We appreciate hearing from you and the thousands of Americans who are writing to the President-elect and Vice President-elect every day. We will work to read your message as soon as possible.
Sincerely,The Obama-Biden Transition Project

Please note that replies to this email will not be answered"

Só para registrar, o bairro continua completamente abandonado.