quinta-feira, 4 de junho de 2009

Caem fichinhas todos os dias

Não são as grandes coisas que mais fazem falta. São as pequeninas que mais dão o sentido da perda. São inúmeras as fichinhas que caem. Não uma única.
É o deitar no sofá da sala, para ver televisão, e adormecer. É o levantar depois e dizer que ia deitar-se ao que invariavelmente eu respondia que ela já estava deitada. É o sorriso em seguida e o “vou pra cama” sempre acompanhado do beijo e do “vem logo”.
É o “vem senão a comida esfria”.
É o “invadir” o banheiro pra tomar banho junto.
É o dormir como conchas para encarar o frio como este destas noites solitárias de junho.
É o aguardar a chegada da escola, coisa que os cachorros ainda continuam fazendo olhando na direção da entrada do sítio, no horário do ônibus (algumas vezes olho também).
É o cochilar nas viagens de carro e o passar a mão carinhosamente sobre minha perna direita, quando algum solavanco a despertava.
É o corar e o rir de qualquer coisa depois de meio cálice de vinho.
Não é o caráter, a bondade e a personalidade, com as quais tínhamos aprendido a conviver.
Eram as ditas bobagens, as coisinhas miúdas, corriqueiras, intimas, do dia a dia.
Estas é que dão o tom da perda e transformaram o acidente em catástrofe.
Não é a dor das costelas quebradas e nem a falta de equilíbrio ou labirintite (provisórias, segundo dizem). Não são os pequenos ferimentos na cabeça ou no braço, já cicatrizados. O que dói são essas pequeninas dores como que causadas por finas e pequenas agulhas. Milhares delas cravadas pelo corpo.

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