quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Retrato parisiense II.

Ela sentou-se numa das cadeiras vermelhas do La Rotonde, na calçada, e pediu um café.
Mais do que o gosto da bebida, o que lhe afagava os cabelos soltos, o rosto bonito e, principalmente, a memória, era o cheiro de manhã na mesa da copa de sua casa com a mãe e as irmãs, todos os dias, pouco antes de sair para a escola. Não eram as pessoas e os veículos circulando em Paris. Eram a família, as amigas, a casa, a rua tão conhecida e sua distante cidade. Fechou mansamente os olhos, para não afugentar os pensamentos e os sonhos, e naquela breve eternidade contemplou as paisagens mais íntimas de si mesma.
O garçom que, solícito, vinha saber de outros eventuais pedidos sustou a caminhada e parou por uns instantes para não interromper a viagem dela. Quem a visse ali, calma, compenetrada e com o cativante sorriso nos lábios, sorriria também. Quando se levantou para sair deixou, sobre a mesinha, um guardanapo com a anotação “Je suis mes paysages intérieurs et mes limites.”

Nenhum comentário: