terça-feira, 6 de outubro de 2009

Haja fidalguia

Hoje, um daqueles dias tirados para roçar o gramado, comecei pela tarefa mais humilde que é a de recolher a bosta dos cachorros. Já disse aqui que se isso não for feito a roçadeira pode espalhar os montes em todas as direções. Para quem já conhece o equipamento, é só inclinar um pouco a lâmina ou o cabeçote de nylon para a direita que as pedrinhas, pedaços de galhos e dejetos em geral são atirados para frente em lugar de atingirem as pernas do operador. Porém (impressionante como aparecem os poréns), nem sempre, durante o manuseio, se mantém a máquina inclinada. Como nas famosas Leis de Murphy isso acontece invariavelmente quando se passa sobre um montinho mais escondido e, quase sempre, recém largado. Daí a necessidade da constrangedora tarefa.
Bem, mas a que me veio o escatológico assunto à mente?
Sim. Uma destas noites estava falando com uma das moças das minhas relações, e aqui, para maior clareza, cabe dizer relações orais, e ainda mais (para que não se pense nos exemplos de Clinton e Mônica Lewinsky), verbais, pelo telefone. Falávamos sobre reutilização e reciclagem e chegamos as sacolinhas de plástico entregues nos supermercados. Disse-lhe eu que as utilizava para depositar o lixo da cozinha e do banheiro ao que ela retrucou que para o banheiro usava pequenos sacos de lixo comprados. Falou que as sacolinhas ficavam feias com as alças penduradas para fora do cesto. Gosto é gosto e pronto.
Lembrei-me também de uma fidalga senhora caminhando pela avenida da praia, em Santos, quando fui visitar os filhos e os netos, na semana passada. Era uma senhora idosa que conduzia ou era conduzida por um enorme cachorro que mais parecia um jumento. Em meio à caminhada o gigante estancou, arqueou as patas traseiras e com aquele olhar perdido, sem demonstrar a menor vergonha, deixou sobre a calçada como que um tronco podado de árvore. Enquanto o trafego de pedestres parava e esperava, a doce senhora tirou de um dos bolsos da calça a malfadada sacolinha e fazendo-a de luva, apanhou o volume, virou o plástico do avesso e deu-lhe um nó com a perícia e a rapidez próprias da experiência. Segurando o pacote pelas alças (desprezadas pela minha amiga) lá se foi a velhinha balançando o fardo à procura de uma lata de lixo.
Conclusões:
1 – Coitados dos lixeiros!
2 – Plástico prejudica o meio ambiente mas serve pra alguma coisa.
3 – Recolher fezes em algumas situações é Lei, em outras é uma necessidade de trabalho e em outras é uma contingência imposta aos clientes obrigados a escutar as descabidas explicações dadas por empresas como Telefônica, Marítima Seguros, Aymoré Financeira e tantas outras.
4 – Tente passar por tudo isso sem perder a nobreza (como a velha senhora).

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