terça-feira, 20 de outubro de 2009

Saudades e memórias. Cinco meses.

Há dias em que sinto uma imensa saudade.
Normalmente ocorre quando vejo ou leio alguma coisa, mas principalmente quando ouço músicas. Podem ser apenas instrumentais ou acompanhadas de versos bem feitos (a grande maioria). É quase impossível escutá-las sem me recordar de coisas ou pessoas com o tal sentimento que, dizem, só existe na língua portuguesa.
Os dicionários a descrevem como a recordação triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas que desejaríamos ver ou possuir novamente.
Daí para a nostalgia, que é a melancolia causada por ela, é um pulo.
Mãe da saudade e da nostalgia é a memória.
Uma vez escrevi que a memória era como uma pasta contendo recordações (escritas, sonoras ou fotografadas) e deixada sobre um armário de uma casa de campo ou praia para a qual não viajamos com freqüência. Um belo dia, quase sempre sem querer, topamos com a tal pasta lá em cima e, com uma espanada, retiramos todo o pó que se acumulou por tanto tempo.
Como por mágica o tempo volta. É o bilhete deixado sob o travesseiro para ser encontrado por um na noite em que o outro viajou. É o beijo gravado com batom num pedaço de papel, colocado entre o limpador e o pára-brisa, só descoberto na estrada. São os códigos adotados para que, dentre todas as pessoas do mundo, apenas uma receba a mensagem. É o papel de bala ou bombom que diz tanto quanto uma página escrita. É a letra grega η “eta” que utilizei para abreviar “eu te amo” e que podia ser escrita numa porção de lugares e objetos ou em etiquetas de roupas presenteadas.
Nesse instante a memória e a saudade se aliam.
Não é mais preciso ter os papéis ou os códigos à mão.
Basta espanar a poeira do pensamento.
As imagens, os sons, os escritos e os sentimentos voltam à superfície. Como um enorme peixe que vem à tona para respirar. Pode ser doloroso ou não. Pode haver só ar fresco ou pode estar acompanhado de um arpão, uma fisgada, uma dor, um choro.
Recordação é, por sua própria natureza, independente. Gostemos ou não, queiramos ou não, boas ou más, elas reaparecem. Chacoalhando a cabeça para que se desgrudem ou permanecendo imóveis para que não fujam. Abertas ou cicatrizadas as feridas, elas bóiam, sobrenadam.
Exatamente como pessoas ou coisas que desejaríamos ver, tocar, sentir, escutar ou literalmente possuir novamente.

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