segunda-feira, 6 de junho de 2011

Salve a Música Popular Brasileira - Rio de Maio

Há algum tempo tinha decidido escrever aqui algumas coisas sobre letras da chamada Música Popular Brasileira. Que me desculpem os admiradores das coisas tipo “minha éguinha pocotó” (parafraseando Vinícius – “beleza é fundamental!”), mas existem canções que entram imediatamente em sintonia com aquilo que estamos sentindo ou vivendo no exato momento em que as escutamos. Há que prestar atenção e há que se deixar levar pela viagem que as palavras proporcionam. Já utilizei aqui algumas dessas poesias que pareciam ter sido escritas para momentos específicos meus e não dos autores.
Dois de junho, final da tarde, começo de noite. Olhei o maço de cigarros (que voltei a fumar - outra das minhas cagadas destes tempos) e calculei que não haveria o suficiente para esperar até o dia seguinte. Dia em que a Márcia completaria cinqüenta e seis anos. Dia em que fiquei enfurnado no sítio todo o tempo (como em muitos outros dias). Liguei o MP3 do carro e, na volta, entre o frio e a umidade, me visitaram o Ivan Lins e a Jane Monheit cantando “Rio de Maio” (do Ivan e do Celso Viáfora):

“Rio, as pedras pulsam na manhã grená.
Frio, vejo arrepios na pele azul crepom do mar.
As folhas caem no Jardim de Alá!
Ah! Por que, no outono, o coração dói mais?
Rio, o verde vibra na manhã lilás.
Frio, Copacabana é um cartão postal vazio.
E o batimento das marés é blues, jazz.
O sol enfeita a zona sul de luz, em vão, em paz.
Pardais passeiam sobre o Vidigal em paz.
Flamingos flanam na Rocinha em paz.
O Rio de maio acorda quase em paz.
Bem perto de mim,
Dois sabiás se amam, perto de mim.
Adolescentes beijam, perto de mim.
Ai que saudade de você e de mim,
dos beijos de amor na tarde sem fim.
Se fosse um filme a nossa vida era assim:
um beijo imenso e o mar cantando Jobim
Um grande amor se reprisando a vida inteira.
Tom, as pedras pulsam na manhã grená.
Frio, vejo arrepios na pele azul crepom do mar.
As folhas caem no Jardim de Alá.
Ah! O outono faz o coração doer demais...”

Nem manhã, nem luz, nem mar. Nada de Rio, de Jardim de Alá, de Copacabana, Vidigal ou Rocinha. Na noite já escura, nem pardais, nem sabiás e, muito menos flamingos (que aqui não os há). Nada de pássaros se amando, nada de adolescentes se beijando. Apenas e tão somente o breu da noite levemente cortado pelos faróis do carro, o frio, a umidade e a solidão. O mesmo trecho da estrada negra que ainda me dá calafrios.
Noite fria, Miracatu, Musácea, local do acidente e, de repente, me surge a belíssima voz da Jane projetando a manhã ensolarada das praias do Rio. O mar, as ondas e os sons do Jobim. O blues, o Jazz, as folhas caindo, a paz. A lágrima.
Ai que saudades de você e de mim!
Ah! Porque, no outono, o coração dói mais?

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