sexta-feira, 10 de junho de 2011

Celebração.

Anteontem, oito de junho, completou-se mais um ciclo que se repete há dois anos. Dia do acidente, dia das mães, aniversário da Márcia e aniversário do casamento. “Comemoração”, se esse é o termo para a passagem das datas cravadas na memória, do nada que há para comemorar.
Como das vezes anteriores, faz um frio terrível, chove e floresce a Astrapéia. O tempo e o Universo continuam rolando suas rodas como uma roleta de um grande cassino que mantém suas portas abertas durante as vinte e quatro horas de todos os dias de todos os anos. Partem uns apostadores e chegam outros. Revezam-se os croupiês, mas ambos (universo e tempo) continuam dando as cartas independentemente da nossa vontade, insignificância e transitoriedade. Pior, ou melhor, ainda. Independentemente da nossa imensa prepotência por acharmos que somos muito mais importantes ou duradouros do que as mais reles bactérias.
Julgamos que o fato de pensarmos, escrevermos ou falarmos (mal e porcamente, por definitivamente não querermos ou não podermos nos fazer entender) nos transforma no supra-sumo dos seres, irrogando-nos poderes e eternidades desmoronados pelo universo a cada átimo de tempo (aqui até caberia o mal e parcamente, como queriam os eruditos referindo-se às deusas Parcas ou aos parcos recursos, mas prefiro o popular mesmo sendo injusto com os suínos).
Porque construímos (mal e porcamente, tão somente no jargão popular, já que consumimos e desperdiçamos muito deixando, ainda, resíduos que entupirão e intoxicarão o planeta por milhares de anos, afetando nossa própria descendência) ou porque exploramos nossos semelhantes à exaustão? São essas características que nos conferem a quintessência entre os seres que conosco coabitam esta minúscula bola flutuante?
Golfinhos e baleias se comunicam. Abelhas descrevem a direção e a distância das fontes de néctar e pólen para que as companheiras os encontrem precisamente. Pássaros constroem os seus ninhos. Algumas espécies de insetos vivem em simbiose beneficiando-se mutuamente da convivência, outras constroem verdadeiras cidades como as colméias e os cupinzeiros.
Chupins jogam fora os ovos dos tico-ticos, botando ali os seus, para que os filhotes sejam criados por outros pais. Ermitãos apoderam-se de conchas marinhas abandonadas para seus abrigos. Formigas invadem colméias, matando para saquear. Pais desnaturados, sem-tetos, ladrões, assassinos.
Somos mesmo tão superiores e diferentes?
Porque somos tão semelhantes é que sempre há algo para comemorar!
Há que comemorar o fato de estarmos vivos. Há que comemorar as nossas saudades e as nossas boas lembranças. Há que comemorar a passagem do tempo curando algumas feridas e abrindo outras. Celebrar as nossas poucas virtudes e até mesmo os nossos incontáveis defeitos e erros, se aprendermos alguma coisa com eles. Há que festejar os amigos e os parentes (e como é bom quando estes se transformam naqueles), tanto os que nunca nos abandonaram quanto aqueles que trilharam nossos caminhos por breves momentos. Os que mesmo apontando os dedos para nossas pequenas ou grandes canalhices não nos negaram as mãos para ajudar a erguermo-nos novamente.
E porque a Astrapéia floresce nestes difíceis meses úmidos e frios e tem as folhas cordiformes (em forma de coração) há que celebrar o amor. Mesmo que dure pouco e que doa desesperadamente quando desvaneçe.

2 comentários:

Regina Matos disse...

Querido Flávio, dia 9 fez um ano que minha mãe partiu....a dor ainda é IMENSA... não sei nem mesmo medir o tamanho...porque ela não tem FIM!
Beijos e saudades!
Impossível ler seu blog e não chorar.

Flávio Paes Pedro disse...

Querida Regina, sinto muito por sua mãe. Acho que não sirvo prá consolar ninguém, mas as dores vão passando e se transformando em cicatrizes, estas sim (ainda bem!) indeléveis. Se consolar, pense que ela vai estar prá sempre dentro de você, geneticamente até, em cada uma das suas células. Não há como perdê-la.
Obrigado pelo carinho.
Beijos e um forte abraço