terça-feira, 23 de novembro de 2010

A ilógica lógica do Capitalismo

Zé Renato, meu irmão de andanças e caminhadas pela vida, perdeu o emprego. Nada de anormal nisso. Todo mundo perde o emprego, mais cedo ou mais tarde. Faz parte da lógica comercial. Faz parte do âmago do capitalismo. Troco você por alguém mais barato ou extingo a função quando meu lucro dá uma caída. Se meu passeio à Europa, ou a compra do meu automóvel novo, ou a aquisição de meu duplex na praia fica levemente ameaçada, demito alguém. Depois contrato um dedicado no lugar de dois que mandei embora. Que se danem as famílias dos demitidos. Que comam menos ou baixem os padrões, o que não pode baixar é o meu padrão e o dos meus familiares. Deixar meu Lulu sem veterinário, nem pensar.
Algumas pessoas entram no jogo sem se dar conta das regras. Patrão é patrão, empregado é empregado. Alguns sacrificam sua vida pessoal e sua felicidade em troca dos bons cargos e salários e se apropriam da pretensa importância dos cargos, como conquista pessoal inalienável. Bobagem. Todos somos substituíveis na ciranda do capital. Não importa o quanto de sua vida você deu. Quantas madrugadas perdeu ou o quanto deixou de acompanhar de perto sua família. Quando você menos esperar, vai chegar a hora da guilhotina e o frio do aço vai correr sua espinha quando a lâmina descer.
O irônico nisso tudo é que o amigo lidava com desempregados. Uma empresa internacional que enche as burras cuidando do desemprego de gente graúda de multinacionais. Aqueles que ajudaram o patrão a impor a ordem capitalista, para não passar à oposição são acariciados logo após o pé na bunda, durante algum tempo para que consigam nova colocação. Recebem o salário e/ou alguns benefícios durante mais algum tempo para que não percam a ilusão de que ter patrão é bom. Com os carinhos recebidos ficam mais propensos a portar os chicotes numa eventual nova empresa. Meu irmão cuidava de não deixar esmorecer a confiança do demitido em sua própria capacidade e a ajudá-lo a transpor as barreiras que se apresentassem.
Por ironia ou escárnio, foi demitido sem aviso e sem que a empresa lhe oferecesse o mesmo tipo de tratamento que dispensava aos outros. Por ironia do destino ou por escárnio, acabara de perder a mãe e de financiar um apartamento.
Otimista por escolha e convicção, dará a volta por cima. Por deferência e apreço o destino deu-lhe fé inquebrantável no ser humano e o apoio do ombro companheiro da Rosana. Com esses alicerces, com certeza levantará edifício muito mais sólido do que aquele onde lhe sugavam o sangue. Fraternais votos de que o Universo conspire a favor.

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