sábado, 16 de outubro de 2010

O amor e o churrasco

Nada mais primitivo que o amor e o churrasco.
Ainda que elas apareçam vez ou outra, não são as labaredas que devem prevalecer. Um e outro só existem quando acompanhados do calor das brasas.
Pode ser que precisem de uma chama inicial para dar início ao processo, mas o fogo contínuo e direto queimaria as carnes e extinguiria rapidamente o combustível.
No churrasco, normalmente utilizo um maço de ervas com salsinha, manjericão e outras que tenha à mão para “benzer” as carnes quando o fogo se levanta. A água, com um pouco de sal, acaba respingando sobre o carvão e as chamas voltam a ficar sob controle. Não se pode “benzer” demais sob pena de apagar o fogo nem de menos para não carbonizar o assado.
Também no amor o que se deve buscar é manter a brasa acesa. Quando a labareda se levanta cada qual busca o maço e o líquido para manter tudo na devida temperatura. É por isso, talvez, que após o sexo os corpos dêem uma relaxada tal qual a verificada, após a benzeção, nas churrascadas.
Da mesma forma que não devem prevalecer as chamas, não deve chegar ao ponto de somente existirem cinzas. De igual modo, como num momento e outro aparecem as labaredas mais altas, vez ou outra aparecem as cinzas. Elas se retiram mandando-se ar ao braseiro, para que não fique sufocado, sem respirar .
O grande segredo é, provavelmente, manter limpo e rubro o carvão. É isso que não é simples. Isso é que é cansativo. Isso é que faz desistirem os mais apressados. Aqueles que preferem ir às churrascarias
Quando se quer um churrasco duradouro, que dure tanto quanto deve durar a festa, deve-se cuidar do braseiro. Assoprando de vez em quando, colocando mais um pedaço de carvão, benzendo a chama com a salmoura. Não é fácil. Não é a toa que, não são todos os convivas, bons churrasqueiros. Não é por outra razão que a prática é difícil e trabalhosa.
Por outro lado, a milenar existência de um e de outro, demonstra que todos podem se tornar amantes ou churrasqueiros. Basta cuidado. Basta persistência. Basta dedicação para que a coisa não desande.
Não bastam serem boas as carnes. É preciso tempero. Normalmente o sal basta. Não deve ser por coincidência que o sal existe na saliva dos beijos e no suor do antes, do durante e do depois do amor. É preciso que o carvão seja de boa qualidade e seco. Carvão úmido não queima e quando o faz produz muita fumaça. Esta acaba fazendo chorar àqueles mais próximos.
Quando se abana a churrasqueira e mais nada acontece, o fogo apagou-se totalmente.
Não cabe apontar culpados. A festa simplesmente acabou.
Não se faz churrasco ou amor quando se deixa esfriar o necessário calor. Não se pode fazê-los com cinzas, com braseiros extintos.

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