domingo, 17 de outubro de 2010

CHUVAS DE VERÃO

PODEMOS SER AMIGOS SIMPLESMENTE, disse-me ela, como se a amizade fosse algo “simplesmente”.
A amizade pressupõe dedicação, entrega, carinho, respeito, tanto quanto o amor ou o romance. Necessitam de opiniões divergentes, concordâncias, discussão. Nenhum dos dois sobrevive sem questionamentos. A submissão constante à opinião do outro é coisa para fieis e santos. Questionar existe desde quando o criador inventa a criatura. Não existe o paraíso para ambos. Vale para os deuses, vale para os artistas. A obra questiona permanentemente o autor. Porque seria diferente para simples seres humanos que buscam o melhor relacionamento? Porque seria diferente para o amor e para a amizade?
Ambos exigem cumplicidade. Ambos exigem conivência e muito trabalho. Nada é tão pouco “simplesmente” quanto a amizade e o amor. Se inexistentes num, o serão, com certeza, na outra.
COISAS DO AMOR NUNCA MAIS, ficou assim como que implícito aos meus olhos que percorriam mais uma vez suas pernas.
AMORES DO PASSADO E DO PRESENTE REPETEM VELHOS TEMAS TÃO BANAIS. Coisas passageiras ou não tão. Coisas tão próprias do amor e da amizade. Temas tão velhos quanto a existência do mundo.
RESSENTIMENTOS PASSAM COMO O VENTO, SÃO COISAS DE MOMENTO, SÃO CHUVAS DE VERÃO. São passageiros os desencontros, assim como as tempestades. O sol do próximo amanhecer seca os caminhos e nossos pés não se sujam mais com a lama de ontem à noite. As lágrimas não formam poças e muito mais rápido do que estas, acabam secando e dando lugar ao riso. Passam como o tempo. Basta dar a ele o que lhe é intrínseco. Dar tempo ao tempo.
TRAZER UMA AFLIÇÃO DENTRO DO PEITO É DAR VIDA A UM DEFEITO QUE SE EXTINGUE COM A RAZÃO. Nem amor e nem amizade dão vida, ou importância, a defeitos. Convivem com eles e os superam. A aflição se vai com o próximo sorriso, com o próximo carinho. Aflição e defeitos existem para serem superados. Algumas vezes não se removem todas as pedras do caminho mas estas acabam sendo contornadas e passam a fazer parte e a embelezar a paisagem.
ESTRANHA NO MEU PEITO, ESTRANHA NA MINHA ALMA, AGORA EU TENHO CALMA. Ficar em paz consigo mesmo faz parte do depois. Depois das chuvas e trovoadas. Depois do vendaval que açoitou o bambuzal. Depois da cheia que fez vazar o rio. Depois da tempestade, melhorou o tempo. Depois os pássaros continuaram voando seguindo as nuvens brancas numa direção e noutra. Depois virá o desassossego. Não fosse assim e não seria calma, seria rotina.
NÃO TE DESEJO MAIS é como se me dissesse o corpo tantas vezes acariciado quando o contemplei uma última vez. Não é o que disse o meu, mas por via das dúvidas acrescentaria ao mais o assim.
PODEMOS SER AMIGOS SIMPLESMENTE, AMIGOS, SIMPLESMENTE, NADA MAIS. O Caetano continuou cantarolando no rádio do carro a música do Fernando Lobo que foi feita pouco antes de eu nascer. Eta mundo velho sem porteira pensei eu ao avistar ao longe a silhueta escura dos montes e serras contra o azul escuro daquela noite. Montanhas e elevações que sempre estiveram ali e que vão continuar depois de mim e depois que todas as rádios deixem de tocar a música. Mesmo nesse tempo continuarão existindo o amor, a amizade e as chuvas de verão.

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