terça-feira, 30 de agosto de 2011

Rodeio, UFC e a nossa hipocrisia.

Há algum tempo falei aqui de uma madame que, na televisão, reclamava do excesso de atenção dado às crianças abandonadas em detrimento dos cães que vivem pelas ruas. Agora a gritaria e a indignação originadas pela morte do bezerro no rodeio de Barretos tomam conta de todas as mídias.
Nada contra os protestos de qualquer tipo ou espécie. Inda mais eu! Protestar também faz parte, assim como a hipocrisia, dos mais primitivos sentimentos e atos humanos, desde o seu nascimento. Que o diga o Victor, meu sobrinho, quando minha irmã não lhe enfia boca à dentro os bicos dos seios, a cada duas horas, para que mame. No caso dele, todos os protestos são imediatamente atendidos, onde e quando quer que ocorram.
Absolutamente nada contra, também, quanto a tratar melhor os animais. Todos os animais, incluindo os da minha espécie, deveriam ser tratados com mais dignidade. Diria mais, deveríamos tratar muito melhor todos os seres vivos que coabitam conosco este mundinho, incluindo plantas, a terra, a água e o ar, sem os quais não conseguiríamos viver.
Definitiva e absolutamente tudo contra os rodeios. Grande imbecilidade que nada tem com nossa cultura. Absurda idiotice que importamos dos estadunidenses. Ao que me consta, aqueles touros e cavalos que pulam desesperados sob os olhares maravilhados dos espectadores, o fazem porque tem parte do corpo (onde ficam órgãos internos e o pênis) amarrado com uma cordinha, o sedém, que é puxada quando se inicia a contagem dos oito segundos durante os quais, outro animal tenta ficar sobre ele. O mais correto e igualitário seria, no mínimo, amarrar também o pênis do montador de tal forma que a cada pulo do touro ou cavalo mais se apertasse a laçada sobre o membro do peão.
Que dizer então das brigas televisionadas e assistidas por milhões de espectadores ao redor do globo, como o tal UFC (Ultimate Fighting Championship – de propriedade do americano Dana White), que o Brasil teve o “privilégio” de sediar dia destes. Os organizadores afirmam categoricamente que se trata do “esporte” que mais cresce no mundo e que já desbancou ou vai desbancar o futebol no quesito quantidade de apreciadores. Pelo pouco que sei, as regras permitem fraturas de quaisquer espécies e jorros de sangue. O que não se permite é chutar o saco (o pinto e os testículos humanos são mais bem protegidos que os dos bovinos) e enfiar o dedo nos olhos superiores (parece-me que o inferior é liberado).
Apesar de estarmos no século vinte e um, continuamos urrando e babando como fazíamos nas arenas e coliseus romanos. Mais dia menos dia voltaremos a virar o polegar para baixo pedindo a cabeça de um dos gladiadores. Os imperadores, agora de terno e gravata, nacionais ou importados, continuam dando circo em vez de pão e à custa de suas platéias abarrotam seus já recheados cofres, tão mais rapidamente quanto mais sangrem ou morram seus bezerros, seus peões ou seus lutadores.
Neste mesmo instante, em todos os cantos, milhões de pessoas, a maioria crianças, morrem de fome enquanto se desperdiçam toneladas e toneladas de alimentos e uns poucos especulam com o preço dos gêneros alimentícios. Países mais pobres são invadidos, e suas populações assassinadas, para que suas riquezas sejam saqueadas. Políticos e outros espertos surrupiam os cofres públicos.
Nesse ínterim, nós os hipócritas, deliciamo-nos com um churrasco de vitela, um lombinho de porco, uma paleta de carneiro e um coraçãozinho de galinha. É provável que lá no fundo, bem lá no fundo, acreditemos que esses animais todos se imolaram propositadamente e de bom grado para nos satisfazer. Enquanto tomamos uma cervejinha gelada e apanhamos uma lasca de picanha temperada no sal grosso, exigimos a cabeça do peão.
Não sou um desses lutadores, ou porque tenho miolos ou porque não tenho músculos, mas também gostaria imensamente que preservassem o meu saco.

Um comentário:

Anônimo disse...

Contrariando um pouco você vou dizer que odeio rodeios mas gosto muito de UFC. Para mim, a diferença é clara: Os lutadores estão lá por livre vontade, enquanto os animais, vítimas de abusos incontáveis, se tivessem opção, certamente estariam bem longe, usando suas tão queridas "bolas", picanhas e lombinhos de forma mais agradável a eles...rs
Já disse que te amo?

Thais