quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Rodeio, UFC e a nossa hipocrisia - Parte 2. Prá Thais.

Das generosas pessoas que lêem estas mal traçadas linhas, uma, que adoro, postou um comentário, na postagem anterior, que tomo a liberdade de transcrever:
“Contrariando um pouco você vou dizer que odeio rodeios, mas gosto muito de UFC. Para mim, a diferença é clara: Os lutadores estão lá por livre vontade, enquanto os animais, vítimas de abusos incontáveis, se tivessem opção, certamente estariam bem longe, usando suas tão queridas "bolas", picanhas e lombinhos de forma mais agradável a eles... rs
Já disse que te amo?”
É ótimo ser contrariado um pouco, principalmente por quem se ama. Isso dá margem para me estender sobre o assunto.
Achar que os lutadores estão lá por livre vontade não seria forçar um pouco a barra? Não estariam eles lá, também como animais, sangrando e fazendo sangrar porque a grana que lhes é oferecida, pelas empresas que os exploram, é muito melhor que a recebida como pedreiros, lavradores, estivadores, etc., etc.? Não lhe parece ser o mesmo caso dos peões? Que outras chances de fama e riqueza teriam eles, sem estudo e sem outras oportunidades, senão servirem à sanha daqueles que pagam para assistir a essas e outras carnificinas que expõe o lado mais violento e detestável dos seres ditos humanos?
Não serão os galos de briga, os bois e os cavalos dos rodeios muito melhor tratados e cuidados do que se estivessem nos quintais e pastos à espera de virarem coxinhas, picanhas e salsichas? Os animais, tanto esses quanto os do UFC, não parecem mais saudáveis? Não brigam aqueles bichos por território, galinhas, vacas e éguas ou para proteger os filhotes? Não brigam os humanos, e se matam, por mulheres, dinheiro, petróleo, carros, bolsas e celulares? Que mal teria então ganhar uma puta grana com isso lotando estádios, ginásios e cadeiras diante dos televisores?
O mal, prá mim, é ganhar uma puta grana com isso. Fazer disso o deleite de quem possa pagar. É incentivar outros a fazerem o mesmo, nas arenas, nas ruas, nas casas, nas escolas, no dia a dia. É provar, incentivar e incutir, principalmente aos mais novos, que com violência também se pode ficar muito rico e famoso. Não lhe parece hipócrita mostrar UFC nos televisores e, logo em seguida, dizer que as agressões nos lares e nas escolas são erradas?
Não seria o caso de construirmos, nas casas, nas escolas e nas praças os tais octógonos? Cada criança só poderia espancar seu coleguinha e fazê-lo sangrar dentro de tais espaços. As outras crianças pagariam para ver. Não valeriam chutes nos pintinhos e nas pererequinhas. Os vencedores passariam de ano e os perdedores teriam que estudar. O presidente dos Estados Unidos levaria para a arena, que se construiria na ONU, o seu colega do Iraque. Se vencesse poderia explorar o petróleo do outro país e, principalmente, as mulheres e crianças iraquianas não seriam assassinadas pelos soldados americanos. Os ladrões esperariam pelas suas vítimas junto aos ringues. Se ganhassem poderiam levar seus anéis, bolsas e celulares. Além dos chutes no saco não se permitiriam armas. Se a vítima vencesse voltaria para sua casa apenas sangrando e com algumas fraturas, mas com seus pertences. O ladrão esperaria outra vítima mais fraca, mas ainda assim dentro dos limites de sua categoria. Quem não quisesse ser assaltado, simplesmente evitaria as praças com octógonos.
Não lhe parece hipócrita dizer às crianças na mesa de jantar que apertar o pinto dos bois e cavalos, para que pulem, é condenável, mas que precisam comer carne para que fiquem grandes, fortes e saudáveis? Não deveríamos também dizer-lhes que o franguinho teve o pescoço quebrado para que morresse. Que o porquinho levou uma facada no coração e o boizinho morreu com uma marretada na cabeça? Que foram castrados para que ficassem mais calmos e gordos?
Não há certa similitude no “fabuloso” capitalismo selvagem em que vivemos? Alguns imperadores determinam que a maioria seja castrada nos estudos, nas condições de trabalho e vida e nas remunerações, para que fiquem mais calmos e mais abunde a mão de obra barata? Não nos jogam a todos nas arenas e nos octógonos para que disputemos com lágrimas, tapas, pontapés, sangue e fraturas as migalhas que nos jogam. É um pouco pior porque valem o dedo nos olhos e os chutes no saco.
É muito pior porque a cavalgada dura bem mais que os oito segundos e não pulamos e nem tentamos derrubar os cavaleiros.
Voltando à sua mensagem, você vive me contrariando. Eu queria ver você muito mais vezes, você não vem. Eu queria abraçar você todos os dias, você não quer. Eu precisaria do seu sorriso e do seu carinho sempre e você não permite. Dessas contrariedades, definitivamente eu não gosto, se bem que agora fica mais claro: Que coração pode ter uma sobrinha que gosta de UFC?
E, sim, você já disse. Mas foram tão poucas as vezes que eu acabo esquecendo se não sou permanentemente lembrado (deve ser coisa da idade). A recíproca é absurdamente verdadeira.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nem sei por onde começo...rs
Começarei então pelo fim: Amo-lhe e repetiria isso tantas vezes quantas se fizessem necessárias para que você não esquecesse jamais. Gostaria também de poder abraçar-lhe e beijar-lhe todos os dias, mas não deixo de fazê-lo porque não quero, mas sim porque não posso. Musácea é distante demais de São Paulo. Bem mais do que gostaria.
Eu gosto de UFC sim, e isso não me faz uma sobrinha sem coração. Assim como o Judô, o Karatê, o Muai Tai, é uma luta, uma prática esportiva e não acredito que os participantes estariam lá tão somente pelo dinheiro. Sendo assim teríamos apenas lutadores de UFC, já que todas as demais lutas no Brasil não possuem patrocínio, ou quando o possuem esse é tão parco que não permitiria ao atleta sequer sustentar-se. Acredito que existam aqueles que lutam porque gostam, e, certa ou não, acredito que são esses a maioria.
Quanto aos animais, duvido encontrar um apenas que sinta-se recompensado em participar desse tipo de atrocidade, como é o rodeio, o bulldog, ou o comparecimento post mortem ao prato das crianças enganadas. Dito isso, lhe comunico que, há mais de um mês não como carne. Não sou contra aqueles que comem, tendo em vista que fiz o mesmo por muitos anos, mas descobri-me mais contra as torturas sofridas por esses animais do que a ausência do sabor deles em meu prato. Contento-me com legumes, verduras, grãos e frutas, que não precisaram sofrer para que eu me deleite. Assim como me deleito também com o octógono, pois tenho certeza de que ambos os atletas gostam do que fazem e não agem da mesma forma fora do ringue. Se eu tivesse escolha aderiria a sua sugestão de "octagonizar" nossas lutas diárias, assim, se eu pudesse optar, não duelaria com nossos políticos corruptos, com assaltantes, com coleguinhas de classe. A simples ideia de ter a opção de ser pacífica já me enche de alegria. Hipocrisia para mim é se contra a violência e repudiar um homossexual, é ser contra corrupção e pagar propina ao guarda de trânsito, é se indignar com o assaltante e não devolver o troco a mais dado pelo caixa, é se queixar de solidão e negar o convite de um sobrinha apaixonada de passar o final de semana em sua casa... =p
De Thais para "Frávio"