sábado, 17 de abril de 2010

Buracos pedagiados

Rodovia pedagiada é aquela na qual se cobram tributos (o famoso pedágio) de quem dela se utiliza. São caracterizadas por aquelas enormes baias (semelhantes às utilizadas nas corridas de cavalos) que adornam as chamadas praças de pedágio. Em tese todos nós já pagamos impostos suficientes para que possamos trafegar por onde bem entendermos. Em tese, também, esses impostos destinam-se, em parte, a manter conservadas as vias por onde passamos. As versões oficiais nos atocham os pedágios goela abaixo com a lenda de que as estradas pedagiadas serão primorosamente mantidas. Nós, como os referidos cavalos das baias, acreditamos.
De vez em quando acredito que o Vale do Ribeira é uma região destinada a testar nossas reações frente aos desmandos administrativos. Com quase certeza, um colegiado de especialistas fica examinando nosso comportamento, diante das cagadas e sacanagens cometidas, para avaliar em que exato instante estourará nossa paciência. Esse trabalho acadêmico será depois apresentado em congressos internacionais.
O que está em curso, atualmente, estou certo disso, é um estudo para ver como reage a população diante de uma espetacular fonte de lucros: Os buracos pedagiados.
Grosso modo, toma-se uma estrada federal, construída com recursos pagos pelos cofres públicos e oferta-se a mesma à iniciativa privada, que de bom grado a aceita. Imediatamente constroem-se as tais praças (nome agradável para o local onde se tomará nosso dinheirinho). Depois se corta o mato e o capim que foi deixado crescer enquanto era pública a rodovia. Em seguida tampam-se alguns buracos com alguma massa vagabunda que resista a alguns pingos de chuva. A seguir já se começam a encher os gigantescos cofres das empresas que receberam de presente as vias. O próximo passo é aguardar a época das chuvas e deixar esburacar.
A BR 116, principalmente no trecho do Vale, por onde mais trafego, foi generosamente aquinhoada pelas crateras. Obviamente se divulgará que as mesmas devem-se às chuvas, o que não resiste a mais reles das argumentações. Por mais estranho que possa parecer, as chuvas caem desde que o mundo é mundo e isso não deveria ser mais novidade pra ninguém. Muito mais recentes são o asfalto de terceira ou quarta categoria e a safadeza de se trabalhar tão mal.
Aqui é absolutamente comum ver-se o asfaltamento “self service”. Um caminhão parado sobre a pista carregado com um monte de alguma coisa parecida com concreto asfáltico, um funcionário e uma pá. Entre um veículo e outro, o funcionário, com boa pontaria decorrente da experiência, arremessa, de cima da caçamba, uma pazada ou mais da tal coisa. Os veículos (os nossos) que passarem e não desviarem dos buracos é que vão compactar o material. Por esse serviço prestado à Concessionária, o usuário da rodovia, além de nada receber, ainda paga o pedágio normalmente (como funcionários temporários dessas empresas, deveríamos recorrer à Justiça do Trabalho).
Em razão da absurda exigüidade de tempo entre o porco conserto e o reabrir do buraco não é de causar espanto descobrir-se que a tal massa do remendo é feita com açúcar ou sal. Só assim para resistir tão pouco aos pingos das chuvas.
Se o subprocurador geral da República, Aurélio Vieira Virgílio Rios, já havia afirmado que “As empresas que administram as rodovias privatizadas têm lucros exorbitantes só comparáveis aos do tráfico internacional de drogas”, imagine-se o que dirá com a fabulosa invenção dos buracos pedagiados.

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