domingo, 20 de setembro de 2009

Márcia, quatro meses de ausência.

Ontem, quando estava entrando no banho, caiu uma chuva forte, com raios e trovoadas. Pensei em deixar para mais tarde, mas como o barulho dos trovões estava distante julguei que daria tempo se eu fosse rápido. Quando terminei de me ensaboar (ou ensabonetar), acabou a energia. A completa escuridão, a água fria e a espuma espalhada pelo corpo todo, me deram uma dimensão destes tempos.
Chuvas, raios e trovoadas, escuro, frio, solidão e abandono tem sido meus parceiros e parceiras desde a tua partida.
Acendi uma vela e, por desencargo de consciência liguei para a Elektro (não sei como, o telefone ainda funcionou por uns minutos). A atendente disse que o retorno estava previsto para as 22:00 horas. Coloquei para cozinhar um arremedo de sopa e sentei no sofá da sala ao lado de inúteis controles remotos de televisor, vídeo e antena. Cercado pela parafernália elétrica e eletrônica fiquei contemplando a chama alaranjada da vela como faziam os homens das cavernas diante das fogueiras.
Pensei nos meus plantões noturnos e nas vezes que essa mesma situação deve ter ocorrido quando você estava sozinha.
A chama bruxuleante da vela, os barulhos no forro e no telhado, os pingos da chuva nas telhas e nos vidros das janelas, o vento assobiando nas folhas das árvores e dos bambus, os clarões assustadores dos raios rondando o quintal e o som dos gigantescos tambores dos trovões que parecem chacoalhar a casa.
Não foi o medo do escuro que me fez chorar. Foi ter te feito passar por isso sem estar ao teu lado. Foi não ter corrido para esquentar água para o fim do teu banho. Foi não ter dito alguma bobagem só para que você soubesse que eu estava ali no escuro e não ter te levado uma vela ou uma lanterna. Foi não ter ficado ali abraçado contigo olhando a chama da vela ou fazendo figuras com as sombras na parede. Foi ter permitido que por algumas horas, nas irrecuperáveis noites dos plantões, você pudesse ter sentido ainda que uma pequenina parte desta monstruosa solidão. Se soubesse o que sei agora e se o tempo voltasse, eu não te deixaria uma única noite sozinha, para que não houvesse a menor possibilidade de você passar por isto.

2 comentários:

Bruno Paes Pedro disse...

Desse jeito o senhor me fode...

Anônimo disse...

Amigo Flávio!

Fica impossivel dizer qualquer coisa, principalmente para nos que te conhecemos. Olho a xilogravura na minha parede e me recordo do dia que voce e a Marcia estiveram na minha casa em Juquiá. Sempre revejo as fotos daquele dia. Covardemente não tive coragem para te visitare acompanhando seu blog tenho a noção dos momentos de solidão que tens passado com a falta da Marcia, a doce e eterna companheira de sua vida. Gostaria de fazer contato com voce, e marcarmos um encontro para falarmos de muitas coisas inclusive arte e cultura. Receba um grande abraço do seu amigo Lara.