segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Manhã de finados

Hoje amanheceu chovendo.
Aquela chuva fina, mansa, fria e persistente dos dias de finados.
Não estou ainda completamente alienado, sei que estamos em setembro, um domingo, dia 20. Sei que ando confundindo os dias da semana como se as feiras fossem as mesmas, de segunda a sexta. Sinto também que os sábados, domingos e feriados estão todos com as mesmas caras exceto quando alguém me visita.
Há exatos quatro meses uma rápida cirurgia nos separou impiedosamente e a imagem que sempre me ocorre é a das operações para separar gêmeos siameses, ao contrário, sempre muito demoradas.
Diferentemente dos irmãos que nascem juntos, um casal vai se juntando aos poucos. As arestas vão sendo aparadas. As peças a serem coladas vão se amoldando uma a outra, todos os dias um pouco mais.
Na separação dos irmãos, mesmo quando um deles não resiste à cirurgia, o que sobrevive passa a viver melhor, liberta-se. Ganha a sua individualidade.
Na separação de amantes tão ligados, o sobrevivente é parcialmente sepultado. Vai-se embora a expectativa de outros dias felizes, vai-se embora a convivência de todas as horas, boas e más. Some até mesmo a conivência de quem conhece tão bem não só as qualidades, mas também os defeitos do outro. Foi-se embora o planejamento de velhos caminhando abraçados ou de mãos dadas pela areia da praia. Fica a necessidade de construir novos vínculos, novas relações e novos caminhos para os quais não conseguimos encontrar mais coragem, disposição, ânimo, saúde ou tempo. Os dias contigo tinham manhã, tarde e noite. Os sábados, domingos e feriados nos encontravam juntos o tempo inteiro. Tinham cores e sabores diferentes. As comidas de hoje prestam-se tão somente à alimentação, deixaram de lado o prazer. As cores tendem para o cinzento. Exatamente como costuma ocorrer nas manhãs chuvosas dos finados.

Um comentário:

Bruno Paes Pedro disse...

Pai...to aqui cara, me liga me chama, to aqui pra vc, pro que vc precisar, sei que falto com o senhor, sei que deveria estar mais presente, me desculpe, me perdoe.
So tenho o senhor agora, meu mestre, tutor...meu rei.