quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Para Célia, André e Feto

Há cerca de dois meses um casal ficou grávido. Por uma daquelas coincidências da vida, há cerca de dois meses mais quarenta e quatro anos nascia uma menina que viria a ser a caçula de uma família cujo pai e mãe eram os meus. O filho mais velho, dos três moleques, cometeu um arremedo de poesia que falava da data do nascimento, quinze de setembro de sessenta e seis, e dos desejos de que a recém nascida fosse feliz.
Acho que a menina é feliz e está em vias de ter o mais desejado e mais feliz período da sua vida, em que pesem os enjôos e o peso adicional que terá de carregar pelos próximos quase sete meses.
Lembro-me de fazer dormir a tal menina, fazendo-lhe cafunés nos cabelos loiros e de pedir-lhe os mesmos cafunés recostando minha cabeça no seu colo pequeno. Fazê-la dormir rapidamente me fez acreditar que eu era um mago de criancinhas. Acreditei que as podia fazer parar de chorar e que as fazia sorrir quando adormeciam. Exercitei os mesmos poderes quando nasceram os meus três, hoje, marmanjos.
Ainda não se sabe o sexo da criança. Três filhos meus, três filhas do meu irmão do meio e dois filhos e duas filhas do mais novo, empate portanto, não permitem prognósticos quanto ao futuro rebento. O que espero e desejo ardentemente é que tanto a mãe quanto a criança transponham esse período com a mais absoluta saúde física e mental. Que eu ainda tenha suficiente saúde física e mental para fazê-la dormir sorrindo, por tantas vezes quantas fiz com a mãe. Talvez já não tenha capacidade para fazer poesias. Talvez já tenha suficiente discernimento para não cometer outra poesia.
No sábado, quando recebi a notícia e depois, pensei no quanto estariam felizes meus irmãos, meu pai, minha mãe e a Márcia se ainda estivessem aqui. Pensei na felicidade que sentiria a Márcia ao saber da novidade da mais do que cunhada, quase irmã, e no que sentiria minha mãe, lá no próximo mês de junho, com quase oitenta e sete anos, tendo nos braços a filha ou o filho, décimo primeiro neto, de sua única menina. Pensei no rosto de falso carrancudo de meu pai com os olhos marejados de lágrimas abençoando o pequeno ou pequena dizendo “Benza-te Deus”.
Pensei no coral de todos nós, presentes e ausentes, dizendo “Assim Seja, Amém”.

Nenhum comentário: