sábado, 5 de junho de 2010

Iojun

Poderia dizer que se trata de uma palavra japonesa e definir um significado para ela. Não seria de todo uma má idéia. No caso presente, a melhor definição para iojun seria período doloroso, dias sofridos, difíceis, que voltam de tempos em tempos, mas que sempre deixam antever a possibilidade da libertação, da alforria.
Ocorreu-me hoje, três de junho. Acordei cedo e o dia amanheceu com aquela chuva fraca de ficar na cama. Na impossibilidade, bateu aquela sensação de friagem que corre pelo corpo nos dias de tempo nublado, úmidos e solitários. Meio característicos do mês de junho.
Não é de hoje. Vem destes tempos de difíceis questionamentos e embaçados ou obscuros projetos de dias vindouros. Vem do recente primeiro aniversário da radical mudança da minha vida. Do primeiro ano, depois de quase quarenta, sem a presença da companheira. Da visita ao cemitério. Da lápide fria, com plaqueta erroneamente escrita. Das três rosas brancas lá encontradas. Da missa com a menção do nome dela. Final de maio.
Tem a ver com ontem, data do aniversário, dia em que faria cinqüenta e cinco anos e não fará. Tem a ver com o próximo dia oito quando ela, com absoluta certeza, me acordaria comemorando o aniversário de trinta e seis anos de casamento. Inicio de junho.
Tem a ver com imagens abstratas. Daquelas com as quais a nossa visão e razão não atinam, de imediato ao menos, com o significado. De carências. De procuras por objetivos indefinidos. De buscas por tesouros desconhecidos com mapas ilegíveis.
Tem a ver com poesia concreta, que me perdoem Décios, Haroldos e Augustos, ou talvez, mais propriamente, com Hai-kais. Estes necessitam três versos e 17 sílabas. Imagem, concisão e objetividade. Na minha cabeça nada mais conciso, nada mais hai-kai. Hai-kai do hai-kai: Iojun .
Io, fim de maio. Jun, começo de junho. Período que abrange os dias, noites, frios, solidões, céus sombrios e nublados que ocorrem, não necessariamente apenas, entre vinte de maio e oito de junho. Cores frias, azuis e verdes. Não somente, entretanto. Desejo e expectativa de dias e noites menos frias e menos solitárias. Cores quentes num dos cantos do quadro. Leves, mas esforçadas faixas de amarelos, laranjas e vermelhos solares invadindo esperançosamente a imagem. Pequena, concisa imagem. Redentora resgatando a nave abandonada no imenso oceano.

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