segunda-feira, 11 de maio de 2009

Olhar de Beatriz



Existem símbolos ou imagens absolutamente simples utilizados para identificação imediata. Os sinais utilizados no trânsito. As imagens identificadoras dos esportes nas olimpíadas.
O cenho franzido dos pais ou mães diante de alguma travessura dos filhos. O proibido estacionar.
Aquele do proibido buzinar. A grande maioria dos jovens que vê esse símbolo, jamais viu ou tocou uma buzina como aquela impressa nas imagens. Buzina de carroças ou carruagens. A visão da imagem, porém, leva imediatamente ao “proibido buzinar”. Não se discute.
Não havia encontrado, até então, o símbolo de rogo, suplica ou a imagem do “por favor”.
Mãos postas se aproximariam da idéia geral, mas acabam remetendo à oração, a algum pleito mais espiritual, transcendental. Não se aplicam ao dia a dia, ao aqui e agora, assim como não contundem.
O olhar de Beatriz, apesar de manso, suave e silencioso, é penetrante. Mais agudo que ponta de lança ou arpão. Entra pelos nossos olhos e penetra direto no coração. Fisga, crava-se. As farpas, como aquelas dos anzóis, apesar de feitas de algodão doce, fixam-se inapelavelmente.
Olhar pedinte, suplicante, rogativo. Não como aquele do “Dá uma esmolinha, pelo amor de Deus”, ao qual, quase invariavelmente, se responde “Não tenho” depois de passar as mãos pelos bolsos fingindo procurar moedas. É diferente. É um olhar de suplica impositiva, exigente, sem espaço para qualquer vacilo ou argumentação.
Olhar tatuagem. Marca de tinta nanquim, indelével. Olhar colante, grudento Como adesivo do tipo industrial, não à base de arroz ou farinha de trigo como os que eu fazia pra colar papel de seda nas pipas ou balões. Não! Cola profissional, daquelas utilizadas em construção civil, industria aeronáutica, solda de transatlânticos. Indesgrudável.
Olhar acompanhado de pequenos braços e mãos que se enrolam na perna.
Câmara alta. Silêncio. Lábios imóveis. Ordem judicial que não se discute, se cumpre imediatamente.Olhar de Beatriz de “Vovô, colo!”.

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