quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Coisas de memória, de perdas e de perdão.

A memória tem dessas coisas. Não tem dono, não tem controle. Assim, sem mais nem menos, libera determinadas lembranças que estavam quietas e permite que vejam a luz do dia ou da noite. No presente caso, permite que vejam a chuva que tem caído nestes dias. Há alguns dias a tal personalidade de vida própria aspirou ou espanou a poeira que encobria recordações de pessoas que se foram fisicamente. Alguém poderia argumentar que era época propícia dada a comemoração de finados. No rol dos que se ausentaram estão pai, mãe, irmãos, tios e tias, avó, parentes outros e amigos. Está a companheira de quase quatro décadas. Fica a gigantesca saudade e a falta que nos fazem, mas fundamentalmente a consciência do que deixamos de fazer ou do que não deveríamos ter feito. Só agora nos momentos de pedirmos perdão, é que damos conta do quanto andamos ausentes e do muito que poderíamos ter enriquecido nossas vidas e nossas atuais memórias.
   

domingo, 13 de agosto de 2017

Dia dos Pais.

Nestes tempos ando pensando em meu pai! Como era o local onde nasceu, por onde andou, no amor que tinha por minha mãe, no seu sentimentalismo, na sua honestidade e no quanto poderia ter aprendido com ele se houvesse participado muito mais do tempo em que andou por aqui. Devo ter apanhado boa parte dos defeitos que, como cada um de nós, tinha acumulado com as dificuldades que enfrentou.
Lembro-me de uma “briga” que tivemos, eu já casado, num ano novo. Saí de casa, na Vila Mariana, e fomos para a casa onde moravam ele, minha mãe, meu irmão mais novo e minha irmã, mais nova ainda, no bairro de Santana. Eu estava temperando um tender, para a ceia, espetando uns cravos e, sei lá porque, iniciamos uma discussão. Nem me recordo se houve alguma coisa do tipo “você está na minha casa”, mas sei que pedi para a Márcia arrumar nossas coisas para irmos embora, mesmo com os pedidos e lágrimas de minha mãe, que não ouvi e nem enxerguei em razão do radicalismo que devo ter herdado dele. No dia seguinte, pela manhã, meu irmão apareceu no apartamento e disse que meu pai tinha chorado e que estava pedindo que voltássemos para almoçar lá. Quando chegamos ao sobrado vi que ele estava me esperando, parado, no alto da escadaria e ali ficamos abraçados e chorando por não sei quanto tempo. Nossas mulheres e meus dois irmãos completaram o chororô daquele primeiro dia de ano.
Antes disso só me recordo de outra situação na qual testei o “gênio difícil” dele até o limite. Não incluo, na lista das desavenças, coisas como as chamadas “no saco” quando, moleque, cheguei da escola com bafo de cigarro ou quando comprei minha bicicleta sem consultá-lo, logo que comecei a trabalhar. No tal dia do “teste”, apenas nós dois estávamos em casa. Assistíamos, pela televisão, a transmissão de um jogo do Corinthians. Ambos corintianos, eu menos fanático, e ele reclamando das faltas marcadas contra o “timão” e das não marcadas a favor. Um jogo quase tão difícil quanto o “gênio” dele (que me deve ter cabido por herança). Ele mencionou a mãe do arbitro tantas vezes como se a conhecesse pessoalmente de algum prostíbulo. Isso foi me irritando tanto que passei também a ofender a referida senhora, mas em situações contrárias. Nesse vestibular da paciência dele, passei a falar do “juiz" todas as vezes que um jogador corintiano esbarrava em um adversário e não era marcada falta. Algumas vezes, contra o fanatismo, berrei pedindo indevidas penalidades máximas contra o alvinegro para que parasse de reclamar ou, mais precisamente, para provocá-lo. Eu estava sentado no sofá e ele numa poltrona atrás de mim. Não percebi, numa dessas “cutucadas”, quando ele levantou-se, mas senti o soco que me deu na cabeça. Nunca tinha sido agredido daquela forma, e é certo que, daquele tamanho e com a força que tinha, ele conteve a força. Fiz algum outro comentário do tipo “Mata!!!”, provocando-o e ele foi à cozinha apanhar uma faca. Ficou lá alguns instantes e passou por mim, para o quarto, chorando. Meu tio, que morava na casa ao lado, escutou a gritaria e me chamou para ir para lá. No dia seguinte, vi que a mão direita dele estava bastante inchada e lhe disse que aquilo era castigo divino. Ainda hoje, passados tantos anos, cada vez que me lembro dessas histórias, choro arrependido.
Recordo-me, das idas ao Horto Florestal, para ver jogos do Silvicultura, para buscar garrafões de água da fonte limpa que ali existia, para brincar nas balanças, gangorras e outros brinquedos ao lado dessa fonte e de pelo menos uma matinê de carnaval no salão do clube. Ele trabalhava no Horto e, nos finais de semana, quando poderia descansar, nos levava até lá para mostrar o museu, os lagos, o palácio de inverno do governo do estado, a imagem esculpida de São Gualberto e os animais que por ali andavam. Nós, eu e meu irmão Augusto (o Cláudio e a Célia ainda não tinham nascido) nunca nos cansávamos quer da caminhada de casa até o Horto, quer dos passeios e correrias lá dentro. Pelas feições dele e de minha mãe, eles também não. Lembro-me das bolas de futebol, usadas, que ele pedia nesse mesmo clube, para nos dar de presente. Nada sabíamos à respeito de dificuldades financeiras.
Um dia, tempos depois, quando ele já tinha conseguido transferência para a Baixada Santista, foi convidado para uma churrascada numa ilha. Perguntou-me se eu queria ir junto. Iríamos num barco grande e me recomendou, na véspera, que eu não comesse muito a fim de não passar mal com os balanços do barco. Inesquecível noite mal dormida com a ansiedade pelo primeiro passeio de barco. Bem cedo, o ônibus de São Vicente para Santos. O barco ancorado na Ponta da Praia. Os pés no primeiro degrau do convés e o comentário de um dos tripulantes: “Ô seu Abílio, criança não pode ir! O senhor pode deixar que eu mando levarem o menino até sua casa!”. A resposta de meu pai: “Muito obrigado, mas se meu filho não pode ir, eu também não posso!” E voltamos dali, mãos dadas, caminhando pela beira mar.
Há pouco tempo ouvi a reclamação de um amigo queixando-se de um filho que o visitava pouco. Estávamos almoçando e ele me falou de seus filhos, dando àquele o epíteto de ausente. Há menos tempo ainda ouvi a reclamação de uma moça que queria saber como é que deveria fazer para retirar de seus documentos o sobrenome do pai. Bem mais recentemente ouvi um pai ser chamado de omisso pelo próprio filho. Fiquei pensando nas relações entre pais e filhos e o que os leva a esses desentendimentos.
Ao meu amigo, com oitenta e uns trocados, eu diria que um pai está sempre correto quando reclama da ausência de um filho. Não interessam as razões da distância. A saudade dói! E, como todas as dores, dói mais ao mais idoso. Sempre que possível cabe ao mais jovem minimizar ou extinguir a dor. Quase sempre o mais velho não dispõe de saúde ou mobilidade para minorar esse sofrimento. Inda mais quando já apagou oitenta e poucas velinhas de aniversário. Nem precisaria de tantas chamas, muito menos bastariam.
A moça diz que o pai nunca participou de sua vida. Os pais nunca viveram juntos. Por uma falta dos devidos cuidados a mãe engravidou. Numa rápida e tempestuosa conversa, das pouquíssimas que tiveram ao longo do tempo, ele disse-lhe que não ficara com a mãe porque a família dela não o aceitara, pela condição financeira dele. A mãe não admitia essa razão e alegava que ele nada significava para que fosse mantida uma relação estável, por menor que fosse. Ele ainda pagava, com bastante regularidade, a pensão que lhe fora determinada. Não me parece haver razões legais para suprimir o sobrenome do pai, inda mais quando a Justiça tem feito o máximo para que todas as crianças tenham registrados os nomes dos pais em suas certidões e documentos. O que falta, imagino eu, é a aproximação deles para que busquem, agora como adultos, um mínimo de entendimento que mitigue o sentimento de carência que por menor que seja devem manter lá no mais intimo e escuro recôndito da alma. Pelo menos, ao conversarem, ela poderá ouvir a versão dele a respeito de sua eventual negligência.
No caso do terceiro pai, o chamado de omisso, é necessário que se analise a conduta do mesmo ao longo de sua paternidade. Caso tenha se portado com desmazelo ou negligência nas fases do desenvolvimento do filho, é óbvio que merece o título. Se não trabalhou para proporcionar alimentos necessários ao desenvolvimento da criança, vestes e abrigo ou residência para protegê-lo adequadamente das intempéries, estudos para dar-lhe a maior capacitação possível, até sua independência, para tornar-se capaz de cuidar de si mesmo e de sua eventual família, é claro que lhe cabe a designação dada pelo filho. Caberia ainda uma pretensa, mas falsa omissão, no caso de pais que prestam serviços em atividades incomuns tais como aquelas ligadas a viagens demoradas ou para locais distantes, tipo profissionais embarcadiços, ou plantonistas cujos horários não se coadunem com os horários “normais” das outras pessoas. Estes, mesmo cumprindo todos os requisitos acima mencionados, podem não estar presentes em boa parte das atividades executadas pelos filhos em horários dito “normais”. Há ainda uma situação em muito semelhante àquela mencionada pelo meu amigo do filho ausente. Se razoável ou grande a diferença de idade entre eles e os estragos físicos que isso pode acarretar no pai, parece-me injusto chamar o mais idoso de desleixado, negligente, omisso ou até mesmo de ausente.
Não há como ter, nesses casos, certezas absolutas. Somos todos absolutamente imperfeitos e, como tais, freqüentemente dados aos erros e equívocos.
De qualquer maneira, mesmo lamentando a comercialização das datas e o conseqüente materialismo aí embutido, sinto muito e de forma dolorosa, a ausência do meu pai. Com certeza deveríamos ter nos mantido juntos por muito mais tempo. Eu deveria ter sido muito mais presente e ter cumprido um desejo que nunca consegui realizar, nem com meu pai e nem com minha mãe, que era o de gravar e escrever as histórias de vida deles, para que meus filhos e netos os conhecessem com detalhes.
Sua benção meu pai, onde quer que você esteja.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Supositórios mastigáveis.

Continuando a onda de denuncias, gravações comprometedoras e bocas nos trombones, não haverá eleições nunca mais, por absoluta falta de candidatos. Obviamente os legislativos e os executivos serão extintos e não haverá mais necessidade de judiciário e tampouco de seitas e religiões. O país economizara uma enorme montanha de dinheiro público surrupiado dos contribuintes de classe média, já que os mais ricos nunca pagaram o devido. A administração pública se fará por meio de assembleias deliberativas, em praças públicas. Havendo imperiosa necessidade de alguns administradores ou cagadores de ordens estes serão escolhidos entre os mais pobres e miseráveis dos municípios, estados ou federação que não poderão ser punidos se, por ventura, afanarem alguns trocados do erário. Se, mesmo assim, o país não se tornar sério, todos os imigrantes e seus descendentes serão recambiados aos seus países de origem. Os aeroportos e portos serão explodidos e dar-se-á chance para que, nos próximos 500 ou 600 anos as populações indígenas, as matas, as florestas, os rios, o mar e a fauna se recuperem.

Academia Brasileira de Letras

Sr. Presidente Domício Proença Filho
Pelo presente venho me candidatar à cadeira deixada vaga pelo falecimento do imortal Eduardo Portella.
Minha obra literária pode ser verificada em vários blogs que podem ser acompanhados pela rede mundial de computadores.
Após alguma pesquisa, constato que nunca foram imortais da ABL os autores Monteiro Lobato, Campos de Carvalho, Chico Buarque, Paulo Freire, Frei Betto, Vinicius de Moraes, Henfil, Drumond, Fernando Moraes e centenas de outros competentes autores brasileiros. Constato, dessa forma que não é o gabarito e a competência do autor que o torna elegível para a honraria como se pode observar na relação dos atuais acadêmicos.
Pelo exposto, solicito registrar minha candidatura para o pleito que se avizinha.
Grato,
Flávio Paes Pedro
Você nunca esqueceu o meu. Eu não poderia esquecer o seu. Onde quer que você esteja!!!

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Ato falho ou plano do crime?

Quando a Companhia Vale do Rio Doce foi doada, por FHC e seus cúmplices, à iniciativa privada ou pirata, uma das primeiras ações tomadas pelos novos donos, foi chamar a empresa de tão somente Vale numa deslavada confissão do que viria a seguir: A pura e simples eliminação do Rio Doce!

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Bonito Lindo.

Não se podia dizer que o rapaz fosse bonito e muito menos lindo.
Não foi por causa da beleza física que ganhou o apelido.
Em todos ou quase todos os plantões noturnos era a mesma situação.
Lá pelas tantas, no final da noite ou começo da madrugada, o pessoal em serviço acabava pedindo uma pizza para comer. Arrecadava-se a parte que cabia a cada um e dois ou três saiam para uma pizzaria a fim de adquirir a “janta”. O rapaz fazia parte da equipe de “busca” e, invariavelmente, comprava uma inteira para si mesmo. O porte arredondado não se contentava com o um quarto, ou dois pedaços de uma “rodela” de oito, que bastava aos demais. Depois das conversas, risos e goles de refrigerantes cada um ia se dirigindo a uma das salas na esperança de que nada tumultuasse o restante do plantão e que se pudesse dar uma cochilada.
O gordinho se afastava com o inevitável “Bom, vou dar uma cagadinha!”.
Quem já teve a desumanidade de prender o Gaturamo (Euphonia violacea L.), passarinho conhecido por “bonito lindo”, numa gaiola sabe que ele alimenta-se basicamente de frutas, ali, na região notadamente bananas. Adora o seu canto e suas cores e aprende que logo após umas poucas bicadas na fruta, inapelavelmente perpetra uma cagadela.
Aquele povo, ao qual nada escapava, complementava com o “Vai lá Bonito Lindo, vai lá”