domingo, 25 de outubro de 2009

Prematuro?

Estes dias tenho sido assaltado pela possibilidade de um novo relacionamento afetivo.
O assaltado fica pela chance de estar sendo vítima de alguma irregularidade, ou ilicitude, cometida pelos meus sentimentos. Teimo em dizer que sentimentos e, principalmente, pensamentos são assim como que independentes. Provavelmente monges budistas, com bastante experiência, tirem isso de letra. Só pensam no que querem, quando querem, e, dizem que chegam até a deixar a cabeça tão limpa quanto uma tela ou folha de papel antes da pintura. Para os simples mortais, especificamente este, isso não ocorre. Vira e mexe sou tomado de assalto por sentimentos ou pensamentos que não me consultam sequer à respeito da hora da visita.
Quando converso ou me insinuo não me dou conta, mas, depois, naqueles momentos de solitária reflexão, que tem sido a tônica destes meses, acho que posso estar cometendo, ou em vias de cometer, uma traição contra a Márcia, desta vez contra a memória dela.
Sempre achei complicada a religiosa existência de faltas ou pecados por pensamentos, palavras e obras. Nem sei se ainda existem pecados ou religiões, mas vá lá que obras e palavras que possam prejudicar outro ser, sejam punidas de alguma forma. Agora, pensamentos? Talvez por isso é que eu lhes atribua essa absoluta independência. Eles que sejam procurados e punidos, se merecerem. De antemão já aviso, não sei onde se escondem.
Qual é o tempo do luto? Lembro-me de minha avó que só conheci, quando menino, viúva e das roupas permanentemente pretas, ou muito escuras, que usava além dos cabelos presos no cocuruto. Isso mesmo depois de muitos e muitos anos da partida de meu avô. E agora?
Esses sentimentos, pensamentos e palavras, com cores mais vivas, magoariam a Márcia?
Provavelmente, minha avó diria que sim, minha mãe que não. A própria, magnânima, diria que não e acrescentaria que eu não saberia viver sozinho. Ao mesmo tempo, ciumenta, talvez dissesse que não mas com a aparência de sim.
Mesmo com a absoluta certeza de que cores mais claras ou abertas, não significam nem por um instante esquecimento, alguma das pessoas que me são caras afirmaria que ainda é prematuro?

Assim também já é demais!!!


Há coisas das quais não se pode abrir mão!
Pedro, o Cabral, disse ter descoberto o Brasil. Mal contada história. Primeiro porque não havia nenhum Brasil encoberto. Segundo, já havia aqui muita gente a quem o tal Pedro chamou de índios, provavelmente julgando que tinha chegado à Índia. Terceiro, se realmente achou alguma coisa, porque não registrou em seu próprio nome ou de sua família e não em nome do rei de Portugal, que nem tinha vindo na viagem? Isso aqui se chamaria Fazenda São Cabral, Quinta de São Pedro ou Chácara dos Álvares (as propriedades eram muito vastas antigamente) e não Ilha ou Terra de Santa Cruz.
Sabe-se lá porque, a propriedade acabou passando para o rei português e o Pedro Álvares morreu à míngua. Provavelmente de cirrose já que devia ser alcoólatra (para agüentar as longas viagens com comida estragada, diarréias, marinheiros cheirando mal, falta de mulheres, rádios e palavras cruzadas, só mesmo bebendo muito) Ninguém sóbrio confundiria esta terra com a Índia, exceto autores de novelas, séculos depois, ao divulgarem que todos os indianos falam a nossa língua.
Isso, contudo, só vem à baila para dizer que se Cabral deixou barato, eu não vou deixar não. Não posso permitir que pessoas mal intencionadas se apropriem dos meus direitos.
Eu, e mais ninguém, lá pelo terceiro quarto do século passado, descobri que Sua Santidade, o Santo Padre (como dizia o meu pai), o Papa, defecava. Repito, eu e mais ninguém!
Estava realizando estudos a respeito da atividade defecativa (quando meus filhos eram pequenos) e, entre outras iluminações, essa me atingiu como um raio. Até então, é bom dizer, por tudo o que se sabia ou era divulgado, o papa não comia, não bebia e, por conseqüência não urinava e tampouco defecava. Os papas viajavam, escreviam encíclicas e faziam aparições na Praça São Pedro. Só. Coisas muito superiores, muito sagradas.
Pior. Se os papas, seres quase divinos, defecavam, então todas as nossas cagadas, morais, espirituais, financeiras ou de conduta podiam ser toleradas, compreendidas e até mesmo perdoadas.
Quando essa explosão me atingiu, não sai alardeando por aí, tanto por medo de que me tachassem de louco quanto pelo medo de perder a patente. Registrar uma patente aqui é dificílimo. No exterior é moleza. Até fruta brasileira já foi patenteada lá fora. Imagina se minha descoberta se espalha.
Agora, meus advogados, após minucioso estudo, chegaram à conclusão de que não tenho direito nenhum sobre essa descoberta. Não adianta discutir, disseram-me eles. Qualquer juiz das cortes internacionais vai julgar improcedente esse pleito.
Uma ova!
Pensei em botar a boca no trombone. Falar dos defecadores famosos. De como deve ser difícil para apresentadoras de televisão que inflam as nádegas com silicone. De dom João VI que se empanturrava com galetos. Da rainha da Inglaterra. Do grito do Ipiranga.
Resolvi esperar.
Vou recorrer à ONU se necessário for. Direito é direito.
Os autores das estatuazinhas espanholas (http://www.caganer.com) que me aguardem!. Vou arrumar mais problemas com os espanhóis. Já não me bastavam os que tenho com a Telefonica e o Santander?.
Paguem o que é meu!.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Saudades e memórias. Cinco meses.

Há dias em que sinto uma imensa saudade.
Normalmente ocorre quando vejo ou leio alguma coisa, mas principalmente quando ouço músicas. Podem ser apenas instrumentais ou acompanhadas de versos bem feitos (a grande maioria). É quase impossível escutá-las sem me recordar de coisas ou pessoas com o tal sentimento que, dizem, só existe na língua portuguesa.
Os dicionários a descrevem como a recordação triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas que desejaríamos ver ou possuir novamente.
Daí para a nostalgia, que é a melancolia causada por ela, é um pulo.
Mãe da saudade e da nostalgia é a memória.
Uma vez escrevi que a memória era como uma pasta contendo recordações (escritas, sonoras ou fotografadas) e deixada sobre um armário de uma casa de campo ou praia para a qual não viajamos com freqüência. Um belo dia, quase sempre sem querer, topamos com a tal pasta lá em cima e, com uma espanada, retiramos todo o pó que se acumulou por tanto tempo.
Como por mágica o tempo volta. É o bilhete deixado sob o travesseiro para ser encontrado por um na noite em que o outro viajou. É o beijo gravado com batom num pedaço de papel, colocado entre o limpador e o pára-brisa, só descoberto na estrada. São os códigos adotados para que, dentre todas as pessoas do mundo, apenas uma receba a mensagem. É o papel de bala ou bombom que diz tanto quanto uma página escrita. É a letra grega η “eta” que utilizei para abreviar “eu te amo” e que podia ser escrita numa porção de lugares e objetos ou em etiquetas de roupas presenteadas.
Nesse instante a memória e a saudade se aliam.
Não é mais preciso ter os papéis ou os códigos à mão.
Basta espanar a poeira do pensamento.
As imagens, os sons, os escritos e os sentimentos voltam à superfície. Como um enorme peixe que vem à tona para respirar. Pode ser doloroso ou não. Pode haver só ar fresco ou pode estar acompanhado de um arpão, uma fisgada, uma dor, um choro.
Recordação é, por sua própria natureza, independente. Gostemos ou não, queiramos ou não, boas ou más, elas reaparecem. Chacoalhando a cabeça para que se desgrudem ou permanecendo imóveis para que não fujam. Abertas ou cicatrizadas as feridas, elas bóiam, sobrenadam.
Exatamente como pessoas ou coisas que desejaríamos ver, tocar, sentir, escutar ou literalmente possuir novamente.

sábado, 17 de outubro de 2009

Marítima Seguros S.A. – O Calvário – Parte I

Em 2007 fiz uma apólice com a Marítima Seguros. Já tinha feito outras com a empresa e nunca as tinha utilizado. A corretagem foi feita pelo Santander e o pagamento das parcelas sempre por débito automático. Tudo muito rápido e facilitado.
Após o fatídico 20 de maio, fizemos as comunicações de praxe.
Primeiro quiseram saber para que concessionária o veículo seria levado. Dissemos que o carro estava destruído, a pista tinha ficado bloqueada por cerca de doze horas e o carro estava no pátio do guincho que o removera. Insistiram como se os destroços pudessem ser recuperados até que efetivamente foram para uma concessionária em Registro. Depois alegaram que havia de ser feita uma vistoria e que não tinham vistoriadores na região. Todos os órgãos policiais mencionaram a perda total do automóvel, mas essa certeza tinha de ser validada por um inexistente vistoriador da empresa. Acabaram encontrando um.
Dias depois fomos contatados por um despachante que “ia cuidar do caso”. Conhecendo os “urubus” que rondam as famílias dos mortos em acidentes para se apropriarem do seguro obrigatório e sem a menor idéia de onde tinha surgido o tal despachante, dissemos que não trataríamos com despachantes.
A relação dos documentos que deveriam ser apresentados incluía, de modo absurdamente imbecil, um boletim de ocorrência elaborado no local do acidente, outro elaborado na Delegacia de Polícia e outro Boletim de Ocorrência Militar,que deveria ser enviado antecipadamente, todos em suas vias originais. A esses absurdos somavam-se outros como IPVA do ano anterior (além daquele do ano atual).
Liguei para um dos despreparados atendentes para explicar que não existe boletim elaborado no local do acidente (os dados são coletados ali, mas a elaboração é feita ou na Delegacia ou no Destacamento Militar ou no Posto da PRF) e, quando manual, a primeira via, original, nunca é fornecida, destinando-se aos arquivos policiais. Quando elaborada em computador, todas as vias acabam sendo originais. Quanto ao IPVA do ano anterior, os comprovantes do pagamento, via caixas eletrônicos, se desbotam com o tempo e ficam ilegíveis.
Obtive o número do laudo pericial e o passei, por telefone, à empresa. Pediram-me a data do laudo. Como Escrivão aposentado sei que o laudo só é emitido algum tempo depois da perícia até mesmo em razão da falta de funcionários e das péssimas condições de trabalho.
Informei que a data da perícia era a mesma da data do acidente. Disse do desbotamento do comprovante do IPVA velho e me sugeriram que fosse a um poupa tempo para obter um outro. Disse que na região não existe esse serviço.
Como insistiram, obtive uma certidão na Ciretran com a inexistência de quaisquer débitos.
Essa certidão e as cópias ilegíveis anteriores foram encaminhadas pelo Santander de Miracatu. Alguns dias depois fui informado que os documentos tinham sido devolvidos, ou pela recusa do Santander Central em entregá-los ou pela recusa da seguradora em recebê-los.
Finalmente foram-me solicitados documentos como o DUT em nome da seguradora e a baixa das restrições. Quando liguei para a Marítima, para inteirar-me da palhaçada, fui informado que esses documentos não eram de minha responsabilidade e sim da empresa financiadora.
Tudo muito demorado, emperrado e dificultado.
Ficou faltando dizer que o valor da indenização é o da tabela FIPE da data do pagamento e que esses valores vão decaindo com o passar do tempo (quanto mais demorado menos pagam).
Tudo muito lógico, lucrativo e previsível.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Haja fidalguia

Hoje, um daqueles dias tirados para roçar o gramado, comecei pela tarefa mais humilde que é a de recolher a bosta dos cachorros. Já disse aqui que se isso não for feito a roçadeira pode espalhar os montes em todas as direções. Para quem já conhece o equipamento, é só inclinar um pouco a lâmina ou o cabeçote de nylon para a direita que as pedrinhas, pedaços de galhos e dejetos em geral são atirados para frente em lugar de atingirem as pernas do operador. Porém (impressionante como aparecem os poréns), nem sempre, durante o manuseio, se mantém a máquina inclinada. Como nas famosas Leis de Murphy isso acontece invariavelmente quando se passa sobre um montinho mais escondido e, quase sempre, recém largado. Daí a necessidade da constrangedora tarefa.
Bem, mas a que me veio o escatológico assunto à mente?
Sim. Uma destas noites estava falando com uma das moças das minhas relações, e aqui, para maior clareza, cabe dizer relações orais, e ainda mais (para que não se pense nos exemplos de Clinton e Mônica Lewinsky), verbais, pelo telefone. Falávamos sobre reutilização e reciclagem e chegamos as sacolinhas de plástico entregues nos supermercados. Disse-lhe eu que as utilizava para depositar o lixo da cozinha e do banheiro ao que ela retrucou que para o banheiro usava pequenos sacos de lixo comprados. Falou que as sacolinhas ficavam feias com as alças penduradas para fora do cesto. Gosto é gosto e pronto.
Lembrei-me também de uma fidalga senhora caminhando pela avenida da praia, em Santos, quando fui visitar os filhos e os netos, na semana passada. Era uma senhora idosa que conduzia ou era conduzida por um enorme cachorro que mais parecia um jumento. Em meio à caminhada o gigante estancou, arqueou as patas traseiras e com aquele olhar perdido, sem demonstrar a menor vergonha, deixou sobre a calçada como que um tronco podado de árvore. Enquanto o trafego de pedestres parava e esperava, a doce senhora tirou de um dos bolsos da calça a malfadada sacolinha e fazendo-a de luva, apanhou o volume, virou o plástico do avesso e deu-lhe um nó com a perícia e a rapidez próprias da experiência. Segurando o pacote pelas alças (desprezadas pela minha amiga) lá se foi a velhinha balançando o fardo à procura de uma lata de lixo.
Conclusões:
1 – Coitados dos lixeiros!
2 – Plástico prejudica o meio ambiente mas serve pra alguma coisa.
3 – Recolher fezes em algumas situações é Lei, em outras é uma necessidade de trabalho e em outras é uma contingência imposta aos clientes obrigados a escutar as descabidas explicações dadas por empresas como Telefônica, Marítima Seguros, Aymoré Financeira e tantas outras.
4 – Tente passar por tudo isso sem perder a nobreza (como a velha senhora).